Segunda-feira, 14 de Maio de 2007
A área ocupada hoje pelo Porto terá sido habitada desde o Paleolítico Superior. O núcleo urbano terá nascido durante o período do Bronze Final e, desde cedo, manteve importantes ligações comerciais com a bacia do Mediterrâneo. Com os romanos, a cidade controlava um importante eixo viário entre Lisboa e Braga. Não existe, no entanto, consenso quanto ao local exacto desse núcleo. Contudo, as descobertas arqueológicas permitem situar Cale (Calem), que aparece no Itinerário de Antonino (séc. II d.C.), no morro de Pena Ventosa, onde se levanta a Sé. Aí estará a origem do Porto. A confirmar está a origem da própria palavra, à qual têm sido atribuídos muitos sentidos, mas que etimologicamente (Cal, Kal) significa pedra, rocha, lugar elevado e rochoso. Portuscale (do nome romano Portus+Cale) ou Portucale era, de início, o porto de Cale, que ficava naturalmente, junto do Douro, na zona ribeirinha. Mais tarde, a cidade passou a designar-se por Portus (documentalmente, desde o 1.º quartel do séc. XII) e, depois, Porto, caindo o s final.
É possível que tivessem existido, muralhas romanas (de finais do séc. III ou inícios do IV), mas de verdade histórica indiscutível é a existência de dois muros defensivos no Porto, ambos medievais: a muralha dita sueva (Cerca Velha) e a muralha fernandina (Cerca Nova), das quais existem ainda hoje vestígios.
Além da natural protecção da cidade, as cinturas de muralhas destinavam-se, essencialmente, a defender os habitantes e os seus bens das investidas de invasores e atacantes, tão frequentes nos tempos medievais. Atribui-se aos reis suevos a construção dessa primitiva cerca e terá sido sobre os alicerces dessa fortificação sueva, arrasada pelo terrível chefe mouro Almançor, em 825, que o gascão Moninho Viegas (trisavô de Egas Moniz), ajudado pelos cristãos, no tempo da Reconquista, mandou construir os muros do burgo. Na acção da reconquista do território aos mouros, conhecida com Presúria do Porto (no ano de 868), foi importante o papel do conde VÍMARA PERES, considerado o "restaurador da cidade de Portucale e fundador da terra portucalense", recordado, desde 1968, na estátua equestre erguida junto à Sé Catedral. A Cerca Velha, também é designada por "Castelo do Porto" em muitos documentos antigos. De facto, a 18 de Abril de 1120, a condessa D. Teresa, viúva do conde D. Henrique, na carta de doação do burgo do Porto, ao bispo D. Hugo e a seus sucessores, refere territórios extra muros, que integravam o Castelo propriamente dito e o couto doado ao primeiro bispo da Diocese, definitivamente restaurada.
A 14 de Julho de 1123, D. Hugo outorgou carta de foral aos habitantes do burgo portucalense. Estes dois documentos, pelas suas consequências, tiveram grande influência na vida da cidade do Porto, cuja história depende deles, em grande parte. D. Hugo aumentou o património da sua diocese com outras doações e privilégios, restaurou a vida religiosa e promoveu a construção da Sé, junto da qual ergueu um edifício onde vivia em comunidade com os cónegos. Faleceu a 7 de Setembro de 1136.
Como se viu, a Cerca Velha (ou “Castelo do Porto”), de origem sueva (?) e reconstruída por Moninho Viegas, erguia-se no morro da Pena Ventosa, à volta da Sé e de algumas construções que formavam o núcleo primitivo do burgo portucalense. Este morro, sobranceiro ao Douro, era um local de grande importância estratégica para o controlo da passagem do rio, principal via de entrada e saída da maior parte das mercadorias transaccionadas na cidade. A muralha comunicava com o exterior através de 4 portas. A principal era Porta de Vandoma (demolida, juntamente com a capela anexa, em 1855), que ficava a nascente do burgo, entre o Largo da Sé e a Rua Chã, antes denominada Chão das Eiras. Daqui, a muralha rodeava o monte da Sé, seguindo de perto as Escadas das Verdades, onde se erguia o Arco ou Porta das Mentiras (mais tarde chamado das Verdades, demolido talvez no decurso do séc. XIV). Cruzava então pelo alto do Barredo, fazendo um ângulo sobranceiro ao rio da Vila (hoje entubado sob as ruas de Mouzinho da Silveira e de S. João), onde se situava o Arco de Sant’Ana ou das Aldas (demolido em 1821). Continuava, depois, para norte, onde se abria o Arco de S. Sebastião (apeado, em 1819, por ameaçar ruína iminente), seguindo depois em zig-zag até fechar o circuito, na Vandoma.
Estátua de Vímara Peres