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Amar o PORTO +

"Não há futuro sem memória. Sem enraizamento e sem memória, os povos, como os homens, são apenas náufragos." Manuel António Pina

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"Não há futuro sem memória. Sem enraizamento e sem memória, os povos, como os homens, são apenas náufragos." Manuel António Pina

O Chafariz de S. Miguel

26.10.07, amaroporto2
      
Ao lado da galilé da Sé Catedral, construída por Nicolau Nasoni, encontramos uma fonte: o Chafariz de S. Miguel (ou Chafariz do Anjo), também do célebre arquitecto e pintor italiano.  
  
O chafariz de S. Miguel, perfeitamente enquadrado no conjunto da Catedral e adossado à parede da antiga Casa do Despacho, apresenta uma interessante moldura constituída por uma grade em ferro forjado (mais um belo exemplar das muitas obras do género semeadas, durante os séculos XVII e XVIII, por varandas, portas e janelas do Porto) e um relevo em mármore, incrustado na parte superior da fonte. A rematar o conjunto, uma pequena escultura em pedra de Ançã, representando o Arcanjo S. Miguel.
Embora seja uma das obras menores de Nasoni, não desmerece o génio artístico do grande mestre italiano.  
A iluminação nocturna, com os seus reflexos dourados, contribui para realçar a beleza deste belo conjunto arquitectónico.
 

SAUDADES DE ADRIANO

16.10.07, amaroporto2

 

 

Canção com lágrimas
 
Eu canto para ti um mês de giestas
Um mês de morte e crescimento ó meu amigo
Como cristal partindo-se plangente
No fundo da memória perturbada.
 
Eu canto para ti um mês onde começa a mágoa
E um coração poisado sobre a tua ausência
Eu canto um mês com lágrimas e sol o grave mês
Em que os mortos amados batem à porta do poema.
 
Porque tu me disseste: quem me dera em Lisboa
Quem me dera em Maio. Depois morreste
Com Lisboa tão longe ó meu irmão tão breve
Que nunca mais acenderás no meu o teu cigarro.
 
Eu canto para ti Lisboa à tua espera
Teu nome escrito com ternura sobre as águas
E o teu retrato em cada rua onde não passas
Trazendo no sorriso a flor do mês de Maio
 
Porque tu me disseste: quem me dera em Maio
Porque te vi morrer eu canto para ti
Lisboa e o sol. Lisboa com lágrimas
Lisboa à tua espera ó meu irmão tão breve.
 
Letra: Manuel Alegre
Música e interpretação: Adriano Correia de Oliveira
 
 
Raiz
 
Canto a raiz do espaço na raiz do tempo
E os passos por andar nos passos caminhados.
... Caminho onde caminhas passo a passo.
E braço a braço meço o espaço dos teus braços:
Oitenta e nove mil quilómetros quadrados.

E um país por achar neste país.

 

Letra: Manuel Alegre
Música e interpretação: Adriano Correia de Oliveira
  

 

Lembro-me do sábado em que morreste. Um dia triste, um dia em que quereríamos fechar as bocas dos que davam a notícia. Mas a morte calou a tua voz cristalina que me fez, tantas vezes, chorar. "Pergunto ao vento que passa"...  Estive no teu funeral, em Avintes. A imagem que guardo é dum dia de chuva. Passados 25 anos, já nem sei era chuva se eram lágrimas.

E o que dói, meu amigo, é que nós, os vivos, continuamos a ter "oitenta e nove mil quilómetros quadrados. E um país por achar neste país."

A tua voz e o teu canto continuam, hoje, a ser indispensáveis, porque "há sempre alguém que resiste; há sempre alguém que diz: NÃO!"

O 142º aniversário do Palácio de Cristal

12.10.07, amaroporto2

Terça-feira, 18 de Setembro de 2007

exterior

interior

 

  • 1861 - início da construção do Palácio de Cristal, no Porto(projecto do arquitecto inglês Thomas Dillen Jones).
  • 1865 - inauguração do Palácio de Cristal. Construído especificamente para albergar, no seu recinto de ferro e vidro, a Exposição Industrial Internacional do Porto e da Península, organizada pela AEP (Associação Industrial Portuense), fundada, em 1849,  por José Vitorino Damásio e outros homens de negócio da região, para além de contar com a visita oficial do rei D. Luís, de Dona Maria Pia e do príncipe herdeiro, contou ainda com 3.139 expositores, dos quais 499 franceses, 265 alemães, 107 ingleses, 89 belgas, 62 brasileiros, 24 espanhóis, 16 dinamarqueses e ainda representantes da Rússia, Holanda, Turquia, Estados Unidos da América e Japão.

Pavilhão Rosa Mota

 

  • 1951 - demolição do Palácio de Cristal (ordenada pela Câmara Municipal do Porto).
  • 1954 - inauguração do Pavilhão dos Desportos (projecto do arquitecto José Carlos Loureiro), construído no lugar do Palácio de Cristal, com a realização, nesse Pavilhão, do Campeonato do Mundo de Hóquei em Patins, no qual Portugal conquistou o título).
Actualmente, o pavilhão chama-se Pavilhão Rosa Mota, em honra da campeã olímpica portuguesa da Maratona.
 
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Demolir é destruir a memória da cidade. Haveria o direito de o fazer?

O Primeiro Voo no Porto

12.10.07, amaroporto2

Sábado, 1 de Setembro de 2007

"Hontem, às 6 horas e 10 minutos da tarde, tendo abrandado forte ventania, levantou o primeiro voo do biplano da creche 'O Comercio do Porto'.
O aparelho, manobrado habilmente por mister Trescartes, ergueu-se garbosamente do aeródromo e cortou o espaço em diversas direcções, subindo a 800 metros".
[...] "a concorrência era numerosíssima, despejando os carros da Companhia Carris e dos Caminhos de Ferro do Porto muitíssimas pessoas, não contando com as que foram em automóveis, trens, bicycletas e motocycletas e a pé".[1]

[1] Segundo Nunes da Ponte, em "Recordando o Velho Burgo", até no Monte Castro, em Gondomar, se aglomerou "uma verdadeira pilha humana" para tentar ver o avião.
Castelo do Queijo acolheu a iniciativa de
"O Comércio do Porto"

 

Foi assim que o Jornal de Notícias registou aquele que estava anunciado como o primeiro voo de avião em Portugal, feito a partir de um aeródromo improvisado junto ao Castelo do Queijo, no sábado 7 de Setembro de 1912. Na verdade, o primeiro voo tinha sido realizado dois anos antes, por Julien Mamet, num Blériot XI, em Lisboa.
Mas foi uma primeira vez para a multidão, 60 mil pessoas segundo as crónicas, que quis ver a desengonçada máquina levantar voo.
Depois de um teste, no primeiro voo oficial o biplano MF4 elevou-se a 300 metros e, após algumas voltas sobre o campo, seguiu em direcção ao Porto, passando por cima do rio Douro, Praça da Liberdade, Marquês do Pombal e Torre dos Clérigos. Permaneceu no ar durante 16 minutos.
Angariar dinheiro para a construção da obra social das Creches "Comércio do Porto" foi o pretexto para este gesto pioneiro. A lembrança foi do industrial António da Silva Marinho, que adquiriu o avião militar em Paris, fazendo transportar até Leixões a bordo de um paquete. À iniciativa aderiram numerosas entidades e pessoas, tentando rentabilizar ao máximo o evento, num gesto percursor da verdadeira acção de marketing a que hoje os portuenses podem assistir. O "desportista" Henrique Marinho transportou aviador e mecânico no seu "magnífico automóvel Fiat"; o governador civil mandou montar guarda no Palácio de Cristal, cedido para a montagem do aparelho e para servir de local de exposição; os chefes militares emprestaram as suas bandas militares para animarem o espaço que foi devidamente engalanado com bandeiras e flores.
As visitas ao Palácio serviram para reunir um bom montante para a obra social do "Comércio", mas a verdadeira festa foi no improvisado aeródromo do "Castelo do Queijo", com a multidão que pagou bilhetes que iam dos 100 reis (peões ao sol) até aos 500 réis (bancada). Um sucesso que depois seria repetido em Lisboa.
O avião pilotado por Trescartes era um MF-4 construído pelo francês Maurice Farman, antigo campeão de ciclismo e fabricante de automóveis e aviões. O biplano militar , com motor Renault, voava a 80 km/h. Foi num destes aviões que Gago Coutinho fez o baptismo de voo com o piloto Sacadura Cabral. No Museu do Ar existe uma réplica.
 "A receita das ascensões ficou longe de cobrir o custo do biplano", escreveu Bento Carqueja, proprietário do "Comércio", mas foi vendido ao Estado por dois mil réis e António Marinho ofereceu o dinheiro às creches. 
 
David Pontes, in Jornal de Notícias (1 de Setembro de 2007)
 
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P.S. Esta é uma notícia com interesse evidente no dia de hoje em que se realizou, também no Porto, uma das provas do campeonato da Red Bull Air Race (Penso que é assim que se diz.). Em 1912, no início da era dos aviões, era natural o interesse dos portuenses pelo aparelho que concretizava o eterno sonho humano de voar e que revolucionaria os transportes de uma forma nunca sonhada.

Gosto de viajar de avião. Eles são um mal necessário à vida de hoje. Mas não gosto que sejam usados como divertimento "para aumentar a adrenalina". Está bem! É um desporto, exige perícia, coragem, etc. Mas eu, que tenho um cuidado constante em poucar energia e proteger o ambiente, não posso estar de acordo com o gasto de combustível e com a poluição que estas provas, como também as de automobilismo ou as de motos, provocam. Não é fácil, para mim, assumir esta posição um tanto moralista. Mas os resultados das nossas escolhas irresponsáveis estão à vista. Não podemos continuar a agredir este planeta que é a nossa casa. Sobretudo porque há quem tenha de viver aqui depois de nós.

RAUL BRANDÃO: um portuense ilustre

11.10.07, amaroporto2

Quarta-feira, 29 de Agosto de 2007

Raul Germano Brandão
 
Raul Brandão (12 de Março de 1867-5 de Dezembro de 1930) nasceu no Porto (Foz do Douro) e faleceu em Lisboa. Matriculou-se no Curso Superior de Letras, tendo criado, com António Nobre e Justino de Montalvão, o grupo iconoclasta Os Insubmissos, que coordenou a publicação de uma revista com o mesmo título. Dirige nos finais do século XIX, com Júlio Brandão e D. João de Castro, a Revista de Hoje e colabora no jornal Correio da Manhã. Com 24 anos de idade, Raul Brandão decide deixar o curso de letras e muda-se para a Escola do Exército. Após o curso de oficiais tirado em Mafra, muda-se para Guimarães onde é colocado como alferes.
A partir de 1912, já reformado no posto de capitão do exército, onde ingressara em 1888, alternaria entre a sua “Casa do Alto”, na Nespereira (Guimarães), e Lisboa, onde passava parte do Inverno.
Elemento activo da “geração de 90” (século XIX), os seus textos, publicados a partir de 1893 no jornal Correio da Manhã, reflectem já um acentuado pendor ético-social e uma obsessiva interrogação sobre o sentido de um mundo sem valores e em acelerado processo de dessacralização. Nele as chamadas Questão Social e Questão Religiosa fundem-se numa mesma problemática que passará a dar conteúdo às suas obras.
Obras principais: A Farsa, O Pobre de Pedir, El-Rei Junot, Húmus, História d’um Palhaço, Memórias (3 tomos), O Doido e a Morte (teatro), Os Pescadores e As Ilhas Desconhecidas (livros de viagens).

  

 Raul Brandão 

 

 

   

 

 

Livro de Apontamentos do autor:

 

O Silêncio e o Lume (Dezembro,1924)
 
Querida: estamos sozinhos à mesa nesta noite infinita [...]
 
Um destes dias temos de nos separar, e é natural que seja eu, que sou mais velho, o primeiro a partir... Antes, porém, quero dizer-te que te devo o melhor da vida. Foste tu que me desvendaste o amor, que eu desconhecia. A bondade e a ternura, que eu desconhecia. Não exerci talvez nenhuma influência na tua alma – tu apaziguaste-me. O amor era em mim um simples impulso: criaste-o, e pouco a pouco essa força nas tuas mãos se transformou em sentimento religioso.
 
Olha para os meus cabelos todos brancos... Julgava que o amor ia diminuindo com o tempo – e o meu amor não cessa de aumentar até à morte e para além da morte. [...]
 
É certo: cada ano que passa é um laço que nos prende e quanto melhor conheço a tua alma, mais me purifico ao seu contacto. Não só fazes parte do meu ser, mas da minha consciência. Chego às vezes a supor que és tu a minha consciência. [...]
 
Foste o fio que ligou a minha vida desordenada. Há em mim um ser desconhecido que me leva, se não estou de sobreaviso, a acções que detesto. Uma palavra tua me detém. Tenho passado o tempo a comentar-me e poucas almas me interessam como a minha. O que eu amo sobretudo é o diálogo com esse ser esfarrapado. Dêem-me um buraco e papéis e condenem-me à solidão perpétua. É-me indiferente... Isto é um erro – e tu fizeste-mo sentir. Sem mo dizeres – compreendi que a nossa vida é, principalmente, a vida dos outros... Melhor: compreendi que a ternura era o melhor da vida. O resto não vale nada. Não é por a esmola da velha do Evangelho ser dada com sacrifício que é mais aceite no céu que o oiro do rico – é por ser dada com ternura. O importante é a comunicação de alma para alma. A mão que aperta a nossa mão, o sorriso que nos acolhe, desvendam-nos o mundo. [...]
 
O sentimento da vida humilde inspiraste-mo tu; este e outros de apaziguamento e verdade. [...]
 
Cada vez me aproximo mais de ti. O que há de puro em mim a ti o devo. És limpidez e ternura.  
 
Eu exagero sempre a dor, tu nunca te queixas. Andas nas pontas dos pés. Mal respiras – e estás sempre presente. Tens uma capacidade para a dor que eu não possuo.
 
Tudo em ti se faz naturalmente, tão naturalmente que ninguém dá por isso. A tua bondade não é um esforço. E é-te tão fácil partilhar a desgraça e as penas dos que se aproximam de ti!... Ninguém te vê e fazes-te sentir em toda a casa. Aquece-la. Estás em toda a parte, e ao mesmo tempo a meu lado. És como o ar que respiro.
 
Qual é a fonte escondida da tua vida, só o sei agora. Nunca pensas em ti – pensas sempre nos outros, ocupada num dever a cumprir, não como dever mas como instintiva compreensão da Vida.
 
Já uma vez te propus matarmo-nos ambos, para penetrarmos mais depressa noutro mundo que adivinho esplêndido. Matarmo-nos não por horror à vida, mas por amor à vida. A outra vida maior. E não só por isso -: para ver a tua alma na sua completa nudez.
 
RAUL BRANDÃO, in"MEMÓRIAS", Tomo II
  
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Talvez um pouco idealizada, mas sem dúvida uma comovente declaração de amor. Vale a pena ler as Memórias, e não só, deste filho da cidade do Porto.

A PONTE DA ARRÁBIDA

10.10.07, amaroporto2
Segunda-feira, 27 de Agosto de 2007
 
Em Março de 1952 foi adjudicada pela Junta Autónoma de Estradas ao Professor Edgar António de Mesquita Cardoso, nascido no Porto a 11 de Maio de 1913 e falecido a 5 de Julho de 2000, a elaboração de anteprojectos para a ponte rodoviária.
A Ponte da Arrábida, vão de 270 m, foi durante algum tempo o recorde mundial para pontes em arco de betão armado. A flecha do arco é de 52 m e o tabuleiro eleva-se a 70m acima do nível médio das águas.
A construção estendeu-se de Maio de 1957 até 22 de Junho de 1963, dia em que foi inaugurada, por altura das festas do S. João. Pela primeira vez, então, o Telejornal é emitido a partir dos estúdios do Monte da Virgem.
 
                        
Eng. EDGAR  CARDOSO                     Américo Tomás (1)
 
 
No dia anterior, o Almirante Américo Tomás, ao tempo Presidente da República, discursava assim no Palácio da Bolsa:
 
“ (…) Vim inaugurar a Ponte da Arrábida, a obra deste século que mais apaixonou o coração dos portuenses (…). A Ponte da Arrábida não é só uma obra magnífica para a cidade. É uma obra de magnífica técnica, que se deve a engenheiros e técnicos portugueses e, um Chefe de Estado não pode ser indiferente a essa circunstância e se em alguma ocasião o orgulho lhe é permitido, nesta indubitavelmente que o é”.
 
Vejam a Ponte, no dia 18 de Agosto, a partir do Palácio de Cristal: LINDA!!!

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(1) Esclarecimento: foi citada uma parte do discurso e publicada a fotografia do Presidente da República de então, porque não devo, nem quero, omitir factos do nosso passado colectivo. Por mais contrária que tenha sido ao regime derrubado em 25 de Abril de 1974, procurarei ser, sempre, tão fiel à verdade dos factos, como aos meus ideais de democrata de esquerda.

A COOPERATIVA DOS PEDREIROS

09.10.07, amaroporto2
Quinta-feira, 23 de Agosto de 2007
 
 
Um edifício da Rua Nossa Senhora de Fátima, já próximo da Rotunda da Boavista, à direita de quem desce, chamou a minha atenção por ter as palavras TRABALHO e REFORMA com uma estátua masculina entre elas, no cimo. Resolvi fotografá-la e descobri, então, que era propriedade da SCPOPP e tinha sido construída no ano de 1953.
Visitei as gavetas da minha memória e, à semelhança do Inspector Maigret (um dos meus preferidos), deduzi que aquela sigla deveria significar Sociedade Cooperativa de Protecção aos Operários Pedreiros do Porto, que associei à conhecida Cooperativa dos Pedreiros.
Cheguei a casa e a Internet esclareceu-me. De facto, trata-se dessa Cooperativa embora o nome, por extenso, seja: Sociedade Cooperativa de Produção dos Operários Pedreiros Portuenses.
 
 
 
Vejam o seu historial:
 
Em 1914, 10 operários especializados, que trabalhavam na construção do Edifício da Estação de S. Bento, na cidade do Porto, resolveram fundar a Cooperativa dos Pedreiros, pagando cada um apenas 20 escudos. A sede foi instalada na Travessa das Almas,36- 1º , no Porto, claro.
Nesse mesmo ano, pela alta qualidade profissional dos seus fundadores, foi encarregada da construção do Monumento à Guerra Peninsular, erigido na Praça Mouzinho de Albuquerque, mais conhecida por Rotunda da Boavista. Por falta de verba, a Câmara Municipal do Porto suspende a construção mas, 34 anos mais tarde (1948), volta a entregar à Cooperativa dos Pedreiros a sua conclusão.
Inicia, no mesmo ano, a construção da sede da Cooperativa do Povo Portuense.
 
 
 
 
Em 1924, a câmara Municipal do Porto encarrega a Cooperativa dos Pedreiros da construção dos Paços do Concelho. Mas passados alguns anos, mais uma vez por falta de verbas, decidiu interromper o prosseguimento da construção. Então, aconteceu uma coisa que, nos dias de hoje, acharíamos extraordinária: a Cooperativa dos Pedreiros comprometeu-se a prosseguir a referida construção e a autofinanciá-la até a Câmara possuir a verba necessária, o que veio a acontecer no ano seguinte. 
Em 1930,  começa a construção de uma nova Sede Social, na Rua D. João IV,  onde  começaram a funcionar cantina, garagem, posto médico e de enfermagem.
Em reconhecimento pelo gesto tido com a C.M.P., e dado que na época existia uma elevada taxa de desemprego, a Cooperativa dos Pedreiros foi louvada  pelo então Ministro das Obras Públicas e Comunicações, Eng.º Duarte Pacheco, pela sua acção social, por portaria do Diário do Governo nº. 31-2ª Série, de 7 de Fevereiro de1933. 
A indústria dos Granitos Polidos foi introduzida em Portugal pela Cooperativa, em 1937. A laboração iniciou-se nas novas oficinas da rua D. João IV, no Porto. Em 1958,  a Cooperativa  é distinguida com a Medalha de Ouro e um Diploma de Honra na Exposição Universal de Bruxelas, pela apresentação em exposição de uma Coluna oca em granito totalmente polida.
Em 1953,  a Cooperativa inaugura o 1º  edifício a que dá o nome de "Trabalho e Reforma" cujo rendimento é dedicado às pensões dos seus cooperantes e suas viúvas (O tal que despertou a minha curiosidade.).
Em1969, é inaugurado um novo edifício com 13 andares a que se deu o nome de Miradouro, cujo rendimento se destina aos pensionistas cooperantes e suas viúvas. Nos últimos pisos do edifício é instalada uma unidade hoteleira .No mesmo ano faleceu o seu Gerente Honorário José Moreira da Silva.  
Por iniciativa da Câmara Municipal do Porto, o largo em frente à sua Sede Social passa a chamar-se Largo José Moreira da Silva e é ali  colocado, em sua homenagem, um monumento e o seu busto em bronze (1971).
A Cooperativa é distinguida, em 1972, com a Medalha de Prata da Direcção Geral de Minas e Geologia, pelos serviços prestados à indústria de rochas naturais.
Em 1989, a Cooperativa faz 75 anos e é distinguida pela Câmara Municipal do Porto com a Medalha de Mérito (Grau Ouro) pelos serviços prestados à Cidade. 
No mesmo ano são inaugurados  a Escola  Profissional de Estudos Económicos e Sociais  José Moreira da Silva e o Museu da Cooperativa.
É ainda atribuída, a título póstumo, a  José Moreira da Silva, a Comenda da Ordem de Mérito Industrial.
A Cooperativa dos Pedreiros  é agraciada, em 1991, com o título de Membro Honorário da Ordem de Mérito, por alvará, de 31 de Outubro, da Presidência da República.
Em1991, inaugura o Instituto de Estudos Sociais Joaquim Oliveira Guedes. 
A Cooperativa inaugura  as suas novas instalações (fábrica) em Ponte de Moreira - Leça do Balio- Matosinhos, em 1997, onde além, de uma moderna unidade de corte de blocos, polimento e acabamento, tem também um grande parque de blocos e placas serradas.
Podemos dizer que “A Cooperativa dos Pedreiros” faz parte da História da cidade do Porto por mérito próprio. Construiu um vasto património que para garantir rendimentos  destinados a um fundo social, que é aplicado na ajuda aos seus Cooperantes e suas viúvas na velhice, como complemento das reformas, e obras públicas e privadas que são o orgulho da cidade e dos Portuenses. Para além dos que já falámos, o Monumento ao Império (na Praça do Império), a Igreja de Nossa Senhora da Conceição ( no Marquês), a Igreja de Santo António (nas Antas), o Palácio do Comércio (na Rua de Sá da Bandeira) e muitos outros.
Os seus trabalhos em  granito, as suas colunas ocas e cantarias não estão só na cidade do Porto mas espalhadas pelos quatro cantos do mundo.
 
 
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N.B. Nesta época em que o próprio Estado procura destruir o sistema de segurança social e de saúde, é bom lembrar o papel solidário desta Instituição de que se orgulha a Cidade do Porto.

Pedro Abrunhosa

07.10.07, amaroporto2
Sábado, 4 de Agosto de 2007
 
 
Quem Me Leva Os Meus Fantasmas

 

Aquele era o tempo

Em que as mãos se fechavam

E nas noites brilhantes as palavras voavam,

Eu via que o céu me nascia dos dedos
E a Ursa Maior eram ferros acesos.
Marinheiros perdidos em portos distantes,
Em bares escondidos,
Em sonhos gigantes.
E a cidade vazia,
Da cor do asfalto,
E alguém me pedia que cantasse mais alto.

 

Quem me leva os meus fantasmas,
Quem me salva desta espada,
Quem me diz onde é a estrada?

 

Aquele era o tempo
Em que as sombras se abriam,
Em que homens negavam
O que outros erguiam.
E eu bebia da vida em goles pequenos,
Tropeçava no riso, abraçava venenos.
De costas voltadas não se vê o futuro
Nem o rumo da bala
Nem a falha no muro.
E alguém me gritava
Com voz de profeta
Que o caminho se faz
Entre o alvo e a seta.

 

Quem leva os meus fantasmas,
Quem me salva desta espada,
Quem me diz onde é a estrada?

 

De que serve ter o mapa
Se o fim está traçado,
De que serve a terra à vista
Se o barco está parado,
De que serve ter a chave
Se a porta está aberta,
De que servem as palavras
Se a casa está deserta?

 

Quem leva os meus fantasmas,
Quem me salva desta espada,
Quem me diz onde é a estrada?

 

Letra e música: Pedro Abrunhosa (Um portuense dos bons!!!)

Álbum: LUZ

Pensar o Porto

06.10.07, amaroporto2
Terça-feira, 31 de Julho de 2007
 
"Na arte, seduz-me o jogo tensivo da construção de possíveis impossíveis. Na política, desiludiu-me a desistência do impossível e o consequente consolo com o possível."
*
*       *
"Não sair do Porto é um acto de resistência. Mas esta cidade mantém uma energia telúrica e silenciosa capaz de enfeitiçar os mais incautos, sendo eu um deles. Agora, não posso deixar de sentir o agravamento das condições económicas da população, o desleixo e abandono da Baixa, e a hostilidade relativamente a um sector tão vital como o cultural, como uma enorme ferida exposta que começo a ficar farto de lamber."
 
Miguel von Hafe Pérez, in Jornal de Notícias (31 de Julho de 2007)
 
 
   

Crítico e curador assinou diversos projectos de comissariado nacionais e internacionais, e foi responsável pela área de Artes Plásticas, Arquitectura e Cidade do Porto 2001, Capital Europeia da Cultura.
Actualmente é responsável pelo projecto de arquivo sobre arte contemporânea em Portugal intitulado Anamnese, para a Fundação Ilídio Pinho.

É Vereador da Câmara Municipal do Porto.

 
 
Deixo aqui um apelo aos portuenses:
A cidade do Porto não pode continuar a definhar. É preciso arregaçar as mangas e há muitas e variadas coisas a fazer. Por que não começar por uma promessa ,de cada um de nós, parecida com isto:
 
 
"Vivo no Porto e farei tudo por continuar aqui."
 
ou
 
"Mudei-me para os arredores, mas prometo tentar voltar a viver no Porto."
 
A  INVICTA  PRECISA  DE  TODOS  AQUELES  QUE  A  AMAM

O S. João e... o resto

06.10.07, amaroporto2

Domingo, 24 de Junho de 2007

  

Apesar de já não gostar muito de confusões, fui até à Baixa participar na grande festa da cidade. Na Avenida da Liberdade, havia a música do José Cid e bastante gente a cantar, a dançar... a divertir-se. Esta é uma noite muito especial, no Porto, embora não seja já como era dantes. No meu tempo de rapariga, a cidade era um mar de gente difícil de romper. Deu para apanhar umas marteladas e, sobretudo, para admirar os prédios da Avenida, iluminados pelos focos de luz. São edifícios lindíssimos e alguns, mais ou menos, bem tratados, como o da Câmara Municipal, o do antigo "Comércio do Porto", da Caixa Geral de Depósitos, do Montepio, do Banco de Portugal, etc. Senti um certo orgulho de viver nesta cidade "de rosto de cantaria" e comovi-me com a imponência daquele espaço. Mas... e há sempre um mas, alguns desses belos edifícios estão desabitados, ou pelo menos parecem, e já com sinais visíveis de degradação. Não entendo como ninguém parece preocupar-se com isso.

Já expressei aqui a minha preferência pela Avenida que tínhamos antes das obras, recentemente,  efectuadas. Acho, até, que alguns portuenses sofrem de "miopia cultural", quando afirmam: "As alterações que se fizeram dão-lhe um ar mais amplo, semelhante às das grandes cidades europeias, etc., etc., etc...."  Por mim, acho que não temos de copiar ou de tentar assemelhar-nos às outras cidades. A cidade do Porto é linda, é portuguesa, é única e assim deve permanecer. Tem "personalidade" e isso é que a torna interessante. Mesmo os estrangeiros, quando nos visitam, não querem encontrar o que têm nos seus próprios países; querem é conhecer o que temos para oferecer de nós próprios: da nossa história, da nossa cultura e da nossa maneira de ser.

É tempo de acabarmos com o servilismo bacoco que, por vezes, expressamos. Nós somos europeus por direito próprio. E temos um país que não é pior nem melhor do que os outros, mas é diferente e é bom que continue a sê-lo. Há muito a melhorar, sem dúvida, mas devemos manter o nosso património intacto, porque é ele que nos caracteriza como nação. Espero que não vejam, nas minhas palavras, o mínimo exagero de nacionalismo. Acho, simplesmente, que a diversidade é que torna o mundo mais rico e mais bonito.

Como o tempo é de festa, aqui fica uma quadra popular:

 

 

Ninguém se sente sozinho

Na noite de S. João:

O de mais longe é vizinho,

O de mais perto é irmão.

 

Broeiro (9.º lugar do concurso do Jornal de Notícias)

 

 

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