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Amar o PORTO +

"Não há futuro sem memória. Sem enraizamento e sem memória, os povos, como os homens, são apenas náufragos." Manuel António Pina

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"Não há futuro sem memória. Sem enraizamento e sem memória, os povos, como os homens, são apenas náufragos." Manuel António Pina

A Quinta da Revolta

19.11.07, amaroporto2

 

O nome de Quinta da Revolta parece ter a ver com a localização da propriedade numa curva pronunciada (a volta), seguida de uma contracurva (re+volta= revolta).
A quinta chama a atenção por este portão, encimado pelo belíssimo brasão rocaille em granito, do século XVIII, com as armas dos Alvo, Brandão e Azevedo.
O palacete sofreu variadas alterações ao longo dos tempos e poderá ser bastante anterior.
 A capela, de fachada barroca muito simples, é dedicada a Nossa Senhora da Conceição e já existia, pelo menos, em 1758.
A quinta é hoje propriedade da família Moreira da Silva que ali instalou um importante centro de jardinagem e viveiros, o conhecido Horto do Freixo.
O projecto de Construção do Parque Oriental, no vale do rio Tinto, pela Câmara Municipal do Porto, integra a Quinta da Revolta que poderá, eventualmente, ser transformada “em hotel, estalagem ou centro de cerimónias pela via privada”.
A ver vamos!

Palácio do Freixo

17.11.07, amaroporto2

 

 

A famosa moradia foi construída nos meados do séc. XVIII por um rico cónego da família nobre dos Cernaches, Jerónimo de Távora, senhor de grandes riquezas na província de Entre Douro e Minho e herdeiro de outro abastadíssimo eclesiástico, o cónego D. João Freire, deão da Sé do Porto, cujos bens haviam sido acumulados por uma dama da família dos Cernaches, de nome D. Micaela Freire. Essa fortuna constituía uma espécie de condado, abrangendo propriedades em Coja, Macieira, Gaia e Baião. Nicilau Nasoni, recém-vindo de Itália, foi incumbido de gisar o plano do sumptuoso palácio que o referido cónego se propôs implantar naquele belo sítio, defronte do cristalino meandro do rio Douro. Os jardins, talhados à maneira italiana, foram repartidos por arquitectónicas alamedas de balaústres e povoados de esculturas alegóricas. Ao longo do rio corria um varandim (bastante desmantelado pela grande cheia de 1909), que oferecia, e ainda oferece, seus encantos panorâmicos.

No interior, o palácio recebeu sumptuosos lavores, em estuques, pinturas a fresco, espelhos e lustres. (O mais valioso dos lustres, segundo se diz, está num museu suíço). As armas dos Távoras ostentavam-se em diversas partes do edifício. Sobrevindo o processo judiciário do regicídio (1758), o palácio, como tantos outros da poderosa estirpe, foi visitado pelas alçadas do Marquês, incumbidas de picar todos os sinais heráldicos dos fidalgos condenados. Em fins do séc. XVIII, o palácio, bastante decadente, passou para os viscondes de Azurara, que, por seu turno, o venderam a um negociante, um tal António Afonso, que o mandou restaurar e ao mesmo tempo estabeleceu, ao lado, uma fábrica de sabão. Era o mofino precedente. Nos nossos dias outro grande industrial adquiriu o edifício e os jardins, instalando nestes a fábrica de moagem, à qual recentemente acrescentou um enorme silo, de 45 metros de altura. Assim se tornou irreparável a asfixia desta tão interessante obra de arquitectura da melhor época barroca. A visita ao palácio confrange. Mesmo assim, vale a pena fazê-la. A autorização, um pouco custosa, terá de obter-se na própria fábrica.

... a nota dominante é a do abandono. As esculturas decorativas, de calcário, que se encontram ainda, nas suas penhas, na fachada voltada ao N., têm todo o ar de figuras petrificadas pelo zumbido industrial e o tapume de chapas enferrujadas que as envolve.

in "Guia de Portugal" [Entre Douro e Minho I - Douro Litoral],

Fundação Calouste Gulbenkian, 1964

 

  

 

De linhas aristocráticas, o Palácio é, do ponto de vista arquitectónico, um edifício único na cidade e um dos mais belos legados de Nicolau Nasoni, e do barroco, ao Porto.

Entra-se no edifício pelo lado ou pelas traseiras, o que era habitual no século XVIII. A fachada principal dá para o rio Douro, com uma vista soberba. Nasoni tirou partido do desnivelamento do terreno e ligou o palácio ao rio através de jardins com socalcos.

Foi classificado monumento nacional, em 1910. Apesar disso, foi vítima da industrialização (até de uma fábrica de carvão, a poente) da zona em que se encontra e votado ao abandono por parte das autoridades que tinham o dever de demarcar a zona de protecção a um edifício desta importância.

Terminada a exposição de Salvador Dalí, o Palácio vai ser entregue, juntamente com a antiga Fábrica das Moagens Harmonia, ao Grupo Pestana para mais uma Pousada de Portugal, a abrir em 2009.

Entre 2000 e 2003, foram feitas as obras de recuperação do Palácio (que custaram 10 milhões de euros), sob a responsabilidade dos arquitectos Fernando Távora (que veio a falecer em 2005) e de seu filho José Bernardo Távora. Na altura, chegou a estar prevista a criação, nesta zona, dum pólo cultural que incluía a construção do Pavilhão das Descobertas, um passeio pedonal junto ao rio, ateliês e exposições para diferentes públicos.

O edifício estava num estado lastimável, devido a anos de abandono e aos estragos feitos pelos sucessivos proprietários. Fez-se o possível por manter o que havia de original, sem pretender refazer ou tentar copiar, mantendo a memória de quem aqui esteve. Uma equipa de restauro de Tomar trabalhou intensamente, durante quase um ano, na recuperação de parte dos traços de Nasoni. Facilmente se encontram espaços vazios e rabiscados nos tectos e nas paredes trabalhados e pintados, deixados como se encontravam.

Houve a grande preocupação de usar materiais das artes tradicionais e não utilizar betão. Nalguns espaços, teve de ser recriado o que havia sido destruído, como as janelas (onde agora se vê o granito, mas que estavam tapadas de madeira) e a escada interior teve de ser refeita porque tinha desaparecido o segundo patamar.

 

    

 

As obras para a reconversão do Freixo em pousada começam em Dezembro e deverão durar até 2009. Terá 78 quartos (situados na Fábrica das Moagens), piscinas interior e exterior, spa, vários salões e um restaurante gourmet com especialidades gastronómicas do Norte. A pousada terá a classificação de Histórica, com quartos a partir de 180 €. Só os jardins deverão ficar abertos ao público, sem prejudicar o normal funcionamento da pousada.
Mais uma vez, vemos os poderes públicos (nacionais e municipais) a demitirem-se das suas obrigações em relação ao património histórico, que é parte da nossa memória, deixando cair o projecto da criação do pólo cultural nesta zona e preferindo transferir para o sector privado aquilo que deveria ser acessível a todos os cidadãos.
Como escrevi antes, fui dizer adeus ao Palácio do Freixo. A partir de agora, aquele “monumento nacional” só poderá ser apreciado por gente rica.
Preferia vê-lo, de novo, abandonado? Claro que não! Mas será que não havia outra alternativa? A exposição do Dalí foi um verdadeiro sucesso, em número de visitantes. Então, o que parece é que, quando as coisas são bem feitas, resultam; que a cultura pode, pelo menos, pagar os custos da sua manutenção.
Por este caminho, o povo português nunca mais vai “sair da cepa torta”. Não pode gostar daquilo que não lhe dão oportunidade de conhecer.  
“Numa entrevista ao Público (6 de Dezembro de 1998), conduzida por João Bénard Da Costa, conta Manoel de Oliveira: ‘O José Régio dizia que a vida sem a arte seria um martírio, seria uma coisa horrível. A arte é que dá sentido de beleza à vida. É uma espécie de sublimação das coisas’.” [*]
 
PENA QUE OS POLÍTICOS NÃO PENSEM ASSIM!!!  
 
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[*] Manuel Poppe, in “Memórias, José Régio e Outros Escritores, co-edição Quasi Edições, Círculo Católico d’Operários de Vila de Conde, 2001, pág. 212

DALÍ NO PORTO, "a posteriori"

13.11.07, amaroporto2

 

 

Como milhares de outras pessoas entre 1 de Agosto e 4 de Novembro, fui ao Palácio do Freixo. Para ver os trabalhos do Dalí e, principalmente, para me despedir do Palácio. Deste, e doutras coisas, falarei mais tarde.

Da exposição, gostei. Não sendo dos meus pintores preferidos, nem representante das correntes artísticas de que mais gosto, tenho de reconhecer o seu  talento. Dalí é daquela espécie de "génio e louco", como convém. Acho que ele teria gostado de saber os seus trabalhos expostos num Palácio barroco. Apenas um senão: a multidão de jovens estudantes barulhentos e pouco apreciadores de arte. Podia ter ido mais tarde, mas quis aproveitar a luz dum dia lindo de Outono. Não se pode ter tudo!...

 

 

      

 "A Aparição de Dulcineia"                                         "Abraão"

 

 

       

  "Vénus e Amor"                                                         "A Aparição da Rosa"

 

Para além das esculturas, muitos trabalhos, obsessivamente, inspirados na "Bíblia Sagrada", na "Divina Comédia" e, como bom espanhol, no "Dom Quixote".

 

 

"Mulher Nua a Subir Escadas"

 

Salvador Dalí

 
Salvador Dalí nasceu em Figueras, na Catalunha (Espanha), a 11 de Maio de 1904 e aí morreu a 20 de Janeiro de 1989. De 1921 a 1922,f requentou a Academia de Belas-Artes de Madrid. Torna-se amigo do poeta Federico García Lorca e do cineasta Luís Buñuel, com os quais desenvolveu, mais tarde, alguns projectos.
Instala-se, depois, em Paris onde se torna membro oficial do grupo surrealista. As simpatias de Dalí pelos regimes de extrema-direita terão levado Breton a excluí-lo do grupo. São desta altura algumas das suas obras surrealistas mais representativas, como, por exemplo, "A Persistência da Memória", "O Jogo Lúgubre" e "Grande Masturbador". Em 1929, conheceu uma jovem russa, Helena Diakonova, conhecida por Gala Éluard (por ter sido companheira de Paul Éluard), que se tornou na modelo e companheira inseparável de Dalí.
Entre 1928 e 1930, colaborou com Buñuel nos filmes Un Chien Andalou e L'âge d'Or. Os primeiros quadros surrealistas foram expostos em 1929. A mistura do real com o irreal é uma característica que se tornará frequente no seu trabalho. Elaborou um método a que chamava "crítico-paranóico", que implicava o recurso ao inconsciente, na interpretação livre de "associações delirantes". Possuía uma técnica magistral, que colocou ao serviço de uma imaginação transbordante alimentada pela leitura cuidada de Freud. As imagens oníricas e os claros símbolos sexuais não impediram o público de assimilar a sua obra, que obteve um sucesso enorme, sobretudo depois da Segunda Guerra Mundial.

Nos Estados Unidos da América, para onde Dalí e Gala viajaram em 1940 e onde permaneceram durante cerca de oito anos, o artista fez, no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque, a sua maior exposição. Escreveu ainda A Vida Secreta de Salvador Dalí e trabalhou por diversas vezes para o cinema, teatro, ópera e bailado. Em 1974, inaugurou o Teatro-Museu de Figueras, onde se encontra exposta uma grande parte da sua obra, e, em 1983, criou a Fundação Gala-Salvador Dalí, uma instituição que gere, protege e divulga o seu legado artístico e intelectual.
Morreu em 1989, sete anos depois de Gala, e foi sepultado, como era seu desejo, no Teatro-Museu que o próprio Dalí criou e ao qual deu o seu nome.

Fonte: Salvador Dalí, in Infopédia [Em linha]. Porto Editora     

Ponte D. Maria até quando?

06.11.07, amaroporto2

4 de Novembro de 1877

 

  

A Ponte D. Maria em construção

 

A construção da Ponte D. Maria Pia iniciou-se em Janeiro de 1876.
Na época, foi uma obra de engenharia audaciosa, de Gustavo Eiffel, que deslumbrou portugueses e estrangeiros.
O Porto foi, aliás, a cidade europeia que mais cedo utilizou a “arquitectura do ferro”.
Utilizaram-se 1.600.000 kg de ferro e cerca de 150 operários, na sua construção. As dimensões exigidas, pela largura do rio Douro e das escarpas envolventes, produziram o maior vão construído, até essa data, com a aplicação de métodos revolucionários para a época.
A inauguração, em 4 de Novembro de 1877, foi presidida pelo rei D. Luís e pela rainha D. Maria Pia, que lhe deu o nome.
Esta ponte, que embeleza a cidade do Porto há 130 anos, fez a ligação ferroviária entre o Norte e o resto do País, sendo um motor importante de desenvolvimento.

  

 

 O Rei D. Luís I e a Rainha D. Maria Pia

 

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Em 1991, a nova Ponte de S. João veio substituí-la e a Ponte D. Maria foi desactivada.
Durante a comemoração dos seus 120 anos, o Presidente da Câmara Municipal do Porto, apresentou o “Projecto de Comboio Turístico e Histórico” que visava a valorização da rota das Caves do Vinho do Porto e das Escarpas do Douro.
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Passaram-se 10 anos. A velha e lindíssima ponte continua abandonada à ferrugem e à corrosão. O projecto, que até parece que já está pago, não começa. Dizem que falta vontade política para o fazer avançar. Ouço falar em utilizar a ponte como passagem (a pé e em bicicleta) e como local de lazer (pequena esplanada para tomar café). Confesso que esta ideia me agrada. Poder tomar, calmamente, um café com aquela vista fabulosa, num fim de tarde de Outono, como os que temos agora, deve ser uma experiência única que tanto os portuenses, como aqueles que nos visitam, merecem ter.
A Associação dos Amigos da Ponte Maria Pia, preocupada com o seu abandono, desabafa, pela voz dum seu dirigente: “Noutro país, este monumento estava recuperado e utilizado para fins turísticos.”
Pois é! Noutro país... Mas este é o nosso. E todos temos o dever de levantar a voz para exigir que não se destrua o património que é de nós todos. Não basta colocar o voto, de tantos em tantos anos, na urna. Os órgãos do poder municipal e nacional não podem fazer só o que os Partidos, ou os seus representantes, entendem, de forma autista e autoritária. O País, o Porto e as suas referências históricas e culturais são património de nós todos. Esse património não pode ser alienado ou destruído sem consentimento do povo, porque ele é a sua memória e a sua maior riqueza.

 

Os contrastes da minha cidade

04.11.07, amaroporto2

Os dias têm estado lindos neste Outono portuense. O Sol não tem faltado e a Cidade oferece-nos, de onde em onde, verdadeiros quadros impressionistas.

 

 

 

Mas o homem, ao contrário da Natureza, está sempre a surpreender-nos. Seja pela falta de civismo do cidadão comum, seja pela falta de respeito dos políticos, que não cumprem com as suas obrigações.

 

   

 

Não precisei de dar mais do que uma dúzia de passos para encontrar os bueiros entupidos que aqui se vêem, como exemplos do desleixo e da irresponsabilidade de quem tem o dever de zelar pela cidade.

Daqui a dias, o bom tempo vai-se embora, vêm as chuvas fortes, há enxurradas, prejuízos e a culpa não é de ninguém.

É preciso acordar!  É urgente que, cada um de nós, saia do seu comodismo e comece a denunciar as situações que nos fazem ter vergonha do país que temos. Como diz, e muito bem, o Sérgio Godinho:

 

"P'ra dormir já chega a morte, ó ai!!!

 

NOTA: Todos estes bueiros se localizam na Rua Serpa Pinto, entre a Rua da Constituição e o Canil, onde penso que se localizam os Serviços de Limpeza da Câmara Municipal do Porto. Não pensem, no entanto, que só acontece nesta rua. É só prestar atenção e ver!

Aniversário da Ponte Luís I

01.11.07, amaroporto2

31 de Outubro de 2007

 

A Ponte D. Luís, sobre o rio Douro, lançada entre o morro granítico da Sé (Porto) e a escarpa fronteira da Serra do Pilar (Gaia), foi projectada pelo engenheiro Teófilo Seyrig, discípulo e colaborador de Gustave Eiffel. A construção, posta a concurso em 1880, foi adjudicada, em 1881, à Sociedade Willebroeck, de Bruxelas. 
Construída ao lado da antiga Ponte Pênsil, que substituiu, é constituída por 2 tabuleiros metálicos, sustentados por um imponente arco de ferro e por 5 pilares. Tem de comprimento cerca de 395m e de largura 8m, sendo 5,5 de faixa de rodagem e 1,25 de passeios. Custou 403 contos e, na sua construção, gastaram-se 3.045.000 kg de aço. A ponte ficou iluminada por 40 artísticos candeeiros de gás.
Permitindo a passagem da Estrada Real que ligava Lisboa ao Norte do País, foi uma das obras de maior envergadura, no plano rodoviário, do reinado de D. Luís.
Exemplo representativo da “arquitectura do ferro”, a nova ponte, verdadeira filigrana de ferro, passou a ser (juntamente com a Torre dos Clérigos) o ex-libris por excelência da cidade do Porto.

  

Em 2 de Agosto de 2005, o METRO passou pela primeira vez sobre a ponte, numa viagem experimental. Tiveram de ser feitas obras de adaptação e reforço para que o tabuleiro superior da ponte pudesse ser utilizado pelo Metro do Porto.
 

 

Foi precisamente, há 121 anos, no dia 31 de Outubro de 1886 (dia do aniversário natalício do rei D. Luís), que se inaugurou o tabuleiro superior da ponte, estando presentes, para além das autoridades governamentais, as autoridades municipais, administrativas e religiosas da cidade do Porto e de Vila Nova de Gaia.