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Amar o PORTO +

"Não há futuro sem memória. Sem enraizamento e sem memória, os povos, como os homens, são apenas náufragos." Manuel António Pina

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A VIOLONCELISTA DO PORTO

28.06.08, amaroporto2

 

Guilhermina Suggia, Augustus John (1923)

 

 

(...) “a colossal artista emocionou e encantou a assistência, que lhe fez justamente uma verdadeira apoteose. Tocou o Concerto em Mi menor de Elgar com a sua arcada que arrebata, com o brio e a expressão que só ela possui e ouvido em religioso silêncio, teve aplausos intermináveis, tendo de repetir o último andamento.”


República, 16 de Fevereiro de 1946

 

 

 

Guilhermina Suggia nasceu a 27 de Junho de 1885, precisamente há 123 anos, no Porto.
O pai foi violoncelista no Real Teatro de São Carlos e professor no Conservatório de Música de Lisboa. Foi o primeiro professor de Guilhermina, que terá começado a estudar música aos 5 anos. A sua primeira aparição pública aconteceu em Matosinhos quando tinha sete anos de idade.
Com apenas 13 anos, Guilhermina era violoncelista principal da Orquestra da Cidade do Porto.
Em 1898, o pai consegue-lhe umas aulas com o famoso violoncelista catalão Pablo Casals, que nesse Verão actuava no Casino de Espinho.
Em Março de 1901, actua com a irmã Virgínia (pianista), no Palácio Real de Lisboa. Com 15 anos apenas, Guilhermina, interpelada pela rainha D. Amélia sobre o sonho da sua vida, afirma desejar aperfeiçoar os seus conhecimentos musicais no estrangeiro.

Uns meses depois, a Coroa portuguesa concede-lhe uma bolsa para estudar em Leipzig (Alemanha), para onde se desloca, acompanhada pelo pai. A vida de pai e filha em Leipzig era extremamente difícil pois a bolsa não cobria totalmente os custos com as aulas e as despesas necessárias à estadia de ambos.

A família tinha poucos recursos financeiros e era a irmã que, com 20 anos, sustentava a família, dando aulas particulares de piano, sacrificando a sua carreira futura de pianista então já conhecida.  

Em 26 de Fevereiro de 1903, com 17 anos, participa no concerto comemorativo do aniversário da orquestra Gewandhaus. Nunca um intérprete tão jovem havia actuado com a orquestra, muito menos como solista e menos ainda do sexo feminino. O êxito foi total e, face aos pedidos do público, o maestro pediu-lhe que repetisse toda a actuação. Começava aqui o seu sucesso internacional.
No mês seguinte, regressa à sua terra natal conquistando o público portuense num concerto em que actuou acompanhada pela sua irmã Virgínia.

A vida de Guilhermina transforma-se completamente e, a partir dessa altura, é acolhida nas maiores salas de concerto pela Europa fora,  onde o sucesso foi tão grande que o público lhe chamava “Paganina” (comparando-a a Paganini).

Em 1906, Suggia está em Paris e, reencontrando Pablo Casals, passa a viver com ele na Villa Molitor, sendo famosos os convívios do casal com músicos, pintores, escritores e filósofos. O romance enche as páginas dos jornais. A relação termina, abruptamente, em 1913 e Guilhermina muda-se para Londres, que se torna o centro da sua actividade musical. Os concertos que fez, nas salas mais conceituadas, foram êxitos estrondosos, em que as assistências a aclamavam verdadeiramente enfeitiçadas.

 

Casa de G. Suggia.Rua da Alegria,665 (Porto)

 

Em 1924, apesar de se manter ligada à capital inglesa, compra casa no Porto. Aqui acaba por casar, em 1927, com o médico José Casimiro Carteado Mena.

Nos anos 30, regressa definitivamente ao Porto, reforçando os laços musicais com músicos portugueses e tocando em várias capitais de distrito.

No final dos anos 40, cria, com Maria Adelaide de Freitas Gonçalves (directora do Conservatório de Música do Porto), a Orquestra Sinfónica do Conservatório. Foi solista no concerto de apresentação da Orquestra, a 21 de Junho de 1948, no Teatro Rivoli.

Em Junho de 1950, foi sujeita a uma cirurgia, em Londres, tendo-lhe sido detectado um cancro inoperável. Na altura é acarinhada pelos amigos e fica especialmente sensibilizada pelo bilhete e flores que recebe da Rainha de Inglaterra.

Regressa ao Porto, onde veio a falecer em casa na noite de 30 de Julho.


 

Está sepultada no Cemitério de Agramonte (Porto). Jazigo 2132

 

Em 1923, foi agraciada com a insígnia de oficial da Ordem de Santiago da Espada; em 1937, foi promovida a comendador desta Ordem. Em 1938, recebeu a Medalha de Ouro da Cidade do Porto.

 
Suggia, que considerava o violoncelo o mais extraordinário dos instrumentos, revolucionou-o em técnica, posição e sonoridade.

Por outro lado, abriu as portas profissionais do violoncelo às mulheres, até então quase fechadas. Ainda em 1930, o violoncelo era tido como um instrumento indecoroso para as mulheres, sendo proibida a contratação de violoncelistas mulheres pela própria orquestra da BBC.