PORTO. Cadeia da Relação, Sede do Centro Português de Fotografia
Queres Dreyer? Ora toma!
Há uns tempos, um fogoso dirigente do BE "de cuyo nombre no quiero acordarme" estranhava o facto de o Centro Português de Fotografia ter sede no Porto e queixava-se melancolicamente de que, desse modo, "os" investigadores tinham que deslocar-se ao…Porto. Isto porque, como é sabido, "os" investigadores habitam as Avenidas Novas, sendo espécie que não procria para lá das portagens de Sacavém.
Acontece o mesmo com os cinéfilos. Nas berças não há ninguém capaz de apreciar devidamente Griffith, Bresson, Ozu, Dreyer ou Rosselini, a não ser algum lisboeta em vilegiatura. Ou, se há, é por capricho da natureza. No Porto, como no resto do país, gosta-se é de Spielberg. Justifica-se, pois, que os contribuintes de todo o país paguem uma Cinemateca dedicada a satisfazer em exclusivo os refinados gozos cinéfilos dos lisboetas. Depois, como poderiam frágeis bobinas de celulóide atravessar desertos e monções para serem mostrados a bosquímanos boquiabertos? Daí que tenha que se dar razão a Bénard da Costa: se os portuenses querem uma Cinemateca, peçam ao dr. Rui Rio e ao La Feria que lhes arranjem uma.
in Jornal de Notícias [09 Julho 2008]