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Amar o PORTO +

"Não há futuro sem memória. Sem enraizamento e sem memória, os povos, como os homens, são apenas náufragos." Manuel António Pina

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O PALÁCIO DOS BISPOS

29.09.07, amaroporto2
Quinta-feira, 24 de Maio de 2007
Nos inícios da independência de Portugal, a cidade do Porto era um pequeno burgo episcopal, situação decorrente da doação do couto, por D. Teresa, em 1120, a D. Hugo (o primeiro bispo portucalense depois da restauração definitiva da diocese, em 1114). A partir de então e até 1408 (quando o bispo D. Gil Alma “vendeu”, a D. João I, a jurisdição da cidade), o senhorio do burgo portucalense esteve na posse do bispo e do Cabido. Uma situação que, durante cerca de 290 anos, originou frequentes discórdias e conflitos entre a Igreja e a Coroa (por causa da jurisdição que ambas reclamavam) ou entre os prelados e os burgueses, que se rebelaram diversas vezes (no que eram instigados e apoiados pelos reis), devido aos impostos e tributos que os bispos lhes impunham e, por eles, considerados exagerados ou injustos.
Sendo o bispo senhor do burgo, não é de estranhar que a residência episcopal ocupasse, desde tempos remotos, um lugar proeminente junto à Sé, no alto da Pena Ventosa. O majestoso edifício que sobressai, pela sua grandeza e luxo de arquitectura, junto da Catedral (que fez perder a esta o domínio do rio) e que salta, imediatamente, à vista de quem olha, para o Porto, do outro lado do rio. Mas, antes deste, que é do séc. XVIII, houve vários paços episcopais, edificados de raiz, ou fruto da ampliação e reedificação de construções anteriores, neste local. De início, o prelado vivia em comunidade com os cónegos. Com D. Martinho Pires, o paço-mosteiro passou a ser a residência exclusiva do bispo e assim se manteve durante vários séculos, com remodelações várias. Foi neste paço, que D. João I celebrou, em 1386, as suas bodas com D. Filipa de Lencastre e recebeu altas individualidades.
Em 1771, foi eleito bispo do Porto D. João Rafael de Mendonça, um prelado que ficou famoso pelas obras que empreendeu e pelo modo faustoso como vivia. Oriundo duma família nobre (filho do 4º conde de Vale de Reis), este prelado, entendendo que o paço episcopal que herdou não estava à sua altura, mandou demolir a antiga residência dos prelados e levantou no, mesmo local, o majestoso paço que ainda hoje se ergue junto à catedral. Tão grandioso e luxuoso é este palácio, que o cónego José A. Ferreira, no seu livro “Memórias Arqueológico-Históricas da Cidade do Porto” (1923/24), faz o seguinte comentário crítico: “A magnificência deste Palácio, mais próprio dum monarca, do que dum sucessor dos Apóstolos, explica-se pela época da sua construção, e pelo seu fundador, que, descendente duma nobilíssima família e acostumado a presenciar as pompas da Corte de D. João V, quis deixar no Porto um testemunho perene e eloquente da sua grandeza, como se mostra pela repetição do seu brasão no mesmo edifício, o qual se vê ainda no altar da Capela de S. Vicente, do claustro da catedral”.
Foi projectado, antes de 1770, por Nicolau Nasoni, que morreu em 1773, sendo a orientação das obras continuada pelo arquitecto Miguel Francisco da Silva. Mas tão imponente era o projecto que, em meados do séc. XIX, as obras ainda prosseguiam, nunca chegando a completar-se totalmente o risco original. Nele se aliam vários estilos, desde as formas pomposas do rococó da época joanina à frieza e modesta simplicidade pombalina. Para além das imponentes e luxuosas fachadas, de grande valor artístico é o amplo vestíbulo e na escadaria barroca, que conduz ao andar nobre, bem iluminada e soberbamente lançada.
Apesar de ter sido construído para residência oficial dos prelados portuenses, o Paço Episcopal nem sempre cumpriu religiosamente esses objectivos, chegando a albergar, em diversas situações históricas, outros inquilinos laicos e até de ideologias e práticas de vida bastante diferentes das eclesiásticas. Em 1808, foi lugar de conferências e conspirações patrióticas e sede da Junta Patriótica do Supremo Governo do Reino (presidida pelo bispo D. António de S. José e Castro), constituída no Porto, para repelir da cidade as tropas invasoras comandadas por Soult. Em 1820, foi nele instalada a sede do governo saído da Revolução de 24 de Agosto e durante o Cerco (1832/34) os liberais construíram uma bateria no vasto pátio da entrada do Paço, sendo este visado pela artilharia miguelista, a partir da Serra do Pilar.