Porto.31.Janeiro.1891
31.01.08, amaroporto2
As ideias republicanas surgiram, em Portugal, nos meados do séc. XIX, mas só no tricentenário da morte de Camões se dá o arranque que levará à Implantação da República, em 5 de Outubro de 1910.
Teófilo Braga, o ideólogo republicano que lançou a ideia das comemorações, diz: “A democracia portuguesa conta com uma data gloriosa, que é o começo de uma nova era: o 10 de Junho de 1880.”
O mesmo afirma Basílio Teles: “Antes dessa data não há história do partido republicano”, mas apenas história da ideia, da aspiração republicana…”
O Ultimato Inglês de 1890 e a onda de patriotismo que gerou, radicalizaram e popularizaram o movimento republicano, sobretudo no Porto. Lembremos a constituição da Liga Portuguesa do Norte, no Porto, logo após o Ultimato, sob a presidência de Antero de Quental. O Porto era, então, o maior centro industrial do país, com um proletariado vivendo em péssimas condições económicas, mas com dirigentes capazes e com grande consciência de classe.
Neste ambiente de exaltação, não é de admirar a impaciência que precipitou a Revolução do Porto (31 de Janeiro de 1891), e que, provavelmente, ditou o seu fracasso.
“Nesse dia, cerca das duas horas e meia duma daquelas manhãs, nevoentas e frias, tão frequentes no Porto durante a estação invernosa, no profundo silêncio da cidade adormecida”… assim começa Basílio Teles, na lúcida análise que é “Do Ultimatum ao 31 de Janeiro – Esboço de História política”, o relato do 31 de Janeiro.
Eram 6 da manhã quando as forças sublevadas (os quartéis de Caçadores 9, Infantaria 10 e Infantaria 18, este último invadido por populares que puseram fim às hesitações quanto à sua adesão), comandadas pelos alferes Malheiro, capitão Leitão e tenente Coelho, se encaminharam para a Praça D. Pedro, posicionando-se frente aos Paços do Concelho.
À frente da coluna, uma banda militar tocava A Portuguesa, de Alfredo Keil.
Santos Cardoso, um dos chefes civis da revolta, içou a bandeira vermelha do “Centro Democrático Federal de 15 de Novembro” no mastro do frontão, apoiado pelos vivas e entusiasmo da multidão. A bandeira vermelha e verde só será adoptada a partir de 1910.
Alves da Veiga, às 7 da manhã, fez o seu discurso, entrecortado pelos aplausos da multidão presente.
A República Portuguesa, um dos dois diários republicanos do Porto, às 4 da manhã, anunciava em “Última hora” o “fim da monarquia de Bragança” e a proclamação da República.
Quando as tropas revoltosas, abandonando a Praça D. Pedro, subiam a Rua de Santo António, foram interceptadas e alvejadas pela Guarda Municipal. Alguns soldados são mortalmente atingidos. O capitão Leitão, apesar de ferido, consegue chegar aos Paços do Concelho e tenta organizar a resistência. Mas o fogo da bateria da Serra do Pilar, a partir dos Lóios e de S. Bento, atinge o edifício municipal, causando grandes estragos.
Por volta das 9 horas, a “noite de sonho, noite de anelo, em que pelo ar espesso perpassou a cândida imagem da liberdade e fulgurou crepitante o clarão sagrado do futuro” (Sampaio Bruno), deu lugar à dura realidade: a Monarquia não caíra.
Seguiu-se a repressão. Prisões, degredo em África…
Mas a caminhada do Homem prossegue e o sacrifício destes patriotas não foi em vão.
O movimento republicano reorganiza-se e, menos de vinte anos depois, derruba de vez a Monarquia.