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Amar o PORTO +

"Não há futuro sem memória. Sem enraizamento e sem memória, os povos, como os homens, são apenas náufragos." Manuel António Pina

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"Não há futuro sem memória. Sem enraizamento e sem memória, os povos, como os homens, são apenas náufragos." Manuel António Pina

A TORRE MEDIEVAL

30.09.07, amaroporto2

Quarta-feira, 30 de Maio de 2007

 

 

A casa-torre medieval, existente na Calçada de D. Pedro Pitões, foi descoberta na década de 1940, durante as demolições do casario que envolvia a Sé do Porto. Essas demolições destinavam-se a desafogar a catedral e a construir o amplo terreiro, onde se situa também o Paço Episcopal e o Cabido.

Essa casa-torre foi, então, totalmente reconstruída, sob orientação do arquitecto Rogério de Azevedo, mas num local afastado cerca de 15 metros da sua localização anterior dentro da cerca primitiva, situando-se agora ao lado das ruínas da antiga Casa da Câmara, à entrada da Rua de S. Sebastião. De estrutura quadrangular, compõe-se de dois pisos. Tem uma porta ogival, na parede a sul, e um balcão de pedra de feição gótica, na parede virada a norte. Tanto a porta como o balcão são de construção recente e, segundo os historiadores, não faziam parte da construção primitiva, mas a reconstituição desta seguiu fielmente as descrições antigas.
Não se conhece a finalidade com que foi construída, mas acredita-se que deveria ter sido a residência dum burguês abastado, como outras semelhantes e muito comuns na Idade Média, quando o próprio lar tinha aspecto de fortaleza para defender pessoas e bens.
Até 1960 (quando foi transferido para a Casa do Infante), esteve aqui instalado o Gabinete de História da Cidade e, por isso, lhe chamavam “Torre da Cidade”. Aí se encontravam os documentos de maior valor pertencentes ao arquivo do Município, como sejam os Livros de Vereações, dos Prazos, da Imposição do Vinho, do Registo Geral e algumas colecções de plantas antigas da cidade que permitem estudar os critérios de urbanização adoptados desde os dois grandes reformadores do burgo, João de Almada e Francisco de Almada, promotores de algumas importantes obras realizadas durante a 2ª metade do séc. XVIII. [1]
A seguir ao 25 de Abril de 1974, foi ocupada pela população local que nela instalou o Centro Social e Cultural da Sé. Por acordo estabelecido com a Câmara Municipal, o Centro Social abandonou a torre, para a Câmara Municipal instalar aí, dada a sua privilegiada situação, um posto de turismo e exposições, onde seriam vendidas publicações editadas pela Câmara e alusivas à História da cidade. Não sei se isto se chegou a fazer, mas vou tentar apurar o que se passou.

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[1] Surgiu agora uma proposta de dar, ao túnel da rua de Ceuta, o nome de Túnel dos Almadas, em honra destes reformadores. Aliás, deve-se a João de Almada o nome da Rua do Almada.

O FALSO PELOURINHO

29.09.07, amaroporto2

Domingo, 27 de Maio de 2007

 

A monumental coluna que se ergue no Terreiro da Sé, em frente à catedral portuense, é uma obra de 1940, ali colocada quando a Câmara (que, nessa altura, ocupava o palácio episcopal) demoliu os arruamentos e as velhas construções que encobriam praticamente a Sé e o Paço e construiu o amplo terreiro lajeado.

O autêntico pelourinho da cidade foi construído no tempo de D. Manuel I, em consequência do foral dado à cidade em 20 de Junho de 1517, e foi colocado na Ribeira, em lugar destacado sobre a muralha fernandina, bem perto da forca que ali esteve erguida também, durante vários anos. Foi destruído no séc. XVIII, segundo parece no contexto duma campanha (que se estendeu também ao séc. XIX) de demolição de monumentos símbolo de opressão e despotismo. (1)

Segundo gravuras antigas, o pelourinho do Porto era constituído por uma bela peça de cantaria assente em três degraus de pedras; no topo da coluna, em forma torcida, tinha uma coroa manuelina que rematava com a esfera armilar encimada por um catavento. A coluna tinha ainda um varão de ferro do qual pendia um lampião que iluminava o pelourinho durante a noite.

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(1) Devo dizer que não sou partidária do apagamento da memória colectiva, através da destruição dos monumentos ou de objectos do passado. Mesmo que esse passado nos envergonhe. É assumindo os erros, e aproveitando o que ficou deles como exemplo, que melhor poderemos evitá-los nas gerações futuras. 

O PALÁCIO DOS BISPOS

29.09.07, amaroporto2
Quinta-feira, 24 de Maio de 2007
Nos inícios da independência de Portugal, a cidade do Porto era um pequeno burgo episcopal, situação decorrente da doação do couto, por D. Teresa, em 1120, a D. Hugo (o primeiro bispo portucalense depois da restauração definitiva da diocese, em 1114). A partir de então e até 1408 (quando o bispo D. Gil Alma “vendeu”, a D. João I, a jurisdição da cidade), o senhorio do burgo portucalense esteve na posse do bispo e do Cabido. Uma situação que, durante cerca de 290 anos, originou frequentes discórdias e conflitos entre a Igreja e a Coroa (por causa da jurisdição que ambas reclamavam) ou entre os prelados e os burgueses, que se rebelaram diversas vezes (no que eram instigados e apoiados pelos reis), devido aos impostos e tributos que os bispos lhes impunham e, por eles, considerados exagerados ou injustos.
Sendo o bispo senhor do burgo, não é de estranhar que a residência episcopal ocupasse, desde tempos remotos, um lugar proeminente junto à Sé, no alto da Pena Ventosa. O majestoso edifício que sobressai, pela sua grandeza e luxo de arquitectura, junto da Catedral (que fez perder a esta o domínio do rio) e que salta, imediatamente, à vista de quem olha, para o Porto, do outro lado do rio. Mas, antes deste, que é do séc. XVIII, houve vários paços episcopais, edificados de raiz, ou fruto da ampliação e reedificação de construções anteriores, neste local. De início, o prelado vivia em comunidade com os cónegos. Com D. Martinho Pires, o paço-mosteiro passou a ser a residência exclusiva do bispo e assim se manteve durante vários séculos, com remodelações várias. Foi neste paço, que D. João I celebrou, em 1386, as suas bodas com D. Filipa de Lencastre e recebeu altas individualidades.
Em 1771, foi eleito bispo do Porto D. João Rafael de Mendonça, um prelado que ficou famoso pelas obras que empreendeu e pelo modo faustoso como vivia. Oriundo duma família nobre (filho do 4º conde de Vale de Reis), este prelado, entendendo que o paço episcopal que herdou não estava à sua altura, mandou demolir a antiga residência dos prelados e levantou no, mesmo local, o majestoso paço que ainda hoje se ergue junto à catedral. Tão grandioso e luxuoso é este palácio, que o cónego José A. Ferreira, no seu livro “Memórias Arqueológico-Históricas da Cidade do Porto” (1923/24), faz o seguinte comentário crítico: “A magnificência deste Palácio, mais próprio dum monarca, do que dum sucessor dos Apóstolos, explica-se pela época da sua construção, e pelo seu fundador, que, descendente duma nobilíssima família e acostumado a presenciar as pompas da Corte de D. João V, quis deixar no Porto um testemunho perene e eloquente da sua grandeza, como se mostra pela repetição do seu brasão no mesmo edifício, o qual se vê ainda no altar da Capela de S. Vicente, do claustro da catedral”.
Foi projectado, antes de 1770, por Nicolau Nasoni, que morreu em 1773, sendo a orientação das obras continuada pelo arquitecto Miguel Francisco da Silva. Mas tão imponente era o projecto que, em meados do séc. XIX, as obras ainda prosseguiam, nunca chegando a completar-se totalmente o risco original. Nele se aliam vários estilos, desde as formas pomposas do rococó da época joanina à frieza e modesta simplicidade pombalina. Para além das imponentes e luxuosas fachadas, de grande valor artístico é o amplo vestíbulo e na escadaria barroca, que conduz ao andar nobre, bem iluminada e soberbamente lançada.
Apesar de ter sido construído para residência oficial dos prelados portuenses, o Paço Episcopal nem sempre cumpriu religiosamente esses objectivos, chegando a albergar, em diversas situações históricas, outros inquilinos laicos e até de ideologias e práticas de vida bastante diferentes das eclesiásticas. Em 1808, foi lugar de conferências e conspirações patrióticas e sede da Junta Patriótica do Supremo Governo do Reino (presidida pelo bispo D. António de S. José e Castro), constituída no Porto, para repelir da cidade as tropas invasoras comandadas por Soult. Em 1820, foi nele instalada a sede do governo saído da Revolução de 24 de Agosto e durante o Cerco (1832/34) os liberais construíram uma bateria no vasto pátio da entrada do Paço, sendo este visado pela artilharia miguelista, a partir da Serra do Pilar.
 

A AVENIDA DOS ALIADOS... HOJE

28.09.07, amaroporto2
Segunda-feira, 21 de Maio de 2007

 

A  Avenida dos Aliados da nossa memória
 
Não vou falar da história da Avenida dos Aliados, apenas das minhas memórias da Avenida.
Como já disse, não nasci no Porto, embora me considere portuense. Lembro-me do deslumbramento dos primeiros tempos. Tudo me parecia grandioso e magnífico. E claro, a Avenida dos Aliados, com os seus edifícios antigos, a Câmara Municipal, as estátuas, os jardins, eram para mim uma espécie de “sala de visitas” do Porto.
Era também o local onde se realizava a “Feira do Livro”. E eu, muito jovem ainda mas já dependente da leitura, lá ia ao fim da tarde fazer a minha ronda pelos expositores, acabando por regressar a casa carregada de livros. À noite, com os amigos, ia algumas vezes até à Praça tomar um café, ou por lá passava no regresso do cinema. Com o 25 de Abril, a Avenida tornou-se o centro de comemorações, manifestações, concertos. Nas tardes quentes, as pessoas descansavam sentadas na relva dos jardins e à sombra das árvores, enquanto as crianças corriam por entre as pombas.
É triste verificar que, durante a noite, a Avenida está agora quase deserta. Mas os edifícios, lavados e iluminados, ainda proporcionam a sensação de uma grandeza bela.
Mas... Porque terá de haver sempre um mas? Depois das obras, da responsabilidade da dupla Rui Rio / Siza Vieira, a Avenida perdeu parte da memória e, por conseguinte, a alma.
Decididamente, não gosto do que fizeram. E digo isto com grande mágoa. Não por causa do Presidente da Câmara que, de facto, não me é particularmente simpático. Mas, tinha um certo respeito, orgulho até, pelo arquitecto Álvaro Siza Vieira, um homem do norte com obra reconhecida. O problema é que os arquitectos “constroem”... e que tinha o arquitecto Siza para construir naquele local? Nada. Então destruiu os jardins, eliminou a calçada portuguesa (Já agora: Onde param as “valiosas” pedras que tiraram de lá?) e introduziu um “espelho de água” que talvez seja bonito visto da Lua. Porque do chão onde pousamos os pés, senhor arquitecto, não passa dum tanque inestético e que serve para depósito de lixo. Lamento ter de dizer isto, mas a cidade é de quem vive nela e não há poder que tenha o direito de destruir a sua herança. Parece que até queriam tirar, da Praça Humberto Delgado, a estátua de Almeida Garrett. Isto é de bradar aos céus! A Avenida parece agora, no centro, é um espaço árido. E, não querendo fazer juízos de valor, parece ter havido uma intenção visível: afastar a “maralha” daquele local nobre da cidade, onde se sentia tão bem.
No que me toca, quando lá vou, fico triste e revoltada.
Gastar os nossos impostos assim, não!
 

"O tanque", fotografado do melhor ângulo. Acreditem que, ao vivo, é bem pior! 
 
 

 

A aridez, mesmo com as luzes do Natal

A CASA DO CABIDO

28.09.07, amaroporto2
Sábado, 19 de Maio de 2007
 

A Casa do Cabido (conjunto dos cónegos que, entre outras funções, ajudam o bispo no governo da sua diocese) do Porto foi construída no séc. XVI, ao lado da Catedral, por iniciativa do bispo D. Frei Marcos de Lisboa (1582/91). Alguns séculos antes, os cónegos, segundo os costumes eclesiásticos do tempo, viviam em comunidade com o bispo, num pequeno paço-mosteiro que com ele partilhavam. No tempo do bispo D. Martinho Pires (1186/89) e após as reformas, por ele introduzidas na organização do Cabido, os cónegos portuenses abandonaram a vida comunitária e a observância da regra de Santo Agostinho, passando a viver secularmente. Mais tarde, construíram a sua própria casa, para administração das rendas do Cabido e para as suas próprias reuniões e actividades eclesiásticas.
Em 1708, após o falecimento do bispo D. Frei José de Santa Maria de Saldanha (1697/1708), o Cabido, argumentando que essa casa já não se ajustava às necessidades de então, mandou demoli-la. As obras da nova Casa do Cabido só começaram, contudo, em 1717, quando se iniciou um longo período de “sede vacante” na diocese do Porto (1717/41), embora se tenha respeitado o projecto elaborado, em 1709, pelo arquitecto João Pereira dos Santos. Foi conservada, no entanto, parte da antiga casa, sendo apenas demolida alguns anos mais tarde, quando Nicolau Nasoni construiu a escadaria de acesso ao claustro superior da Sé.
O edifício da actual Casa do Cabido é uma construção rectangular anexa ao lado esquerdo da Sé e tem 3 pisos. O primeiro, previsto inicialmente para nele se instalarem os celeiros do Cabido (onde os cónegos guardavam o trigo e o milho que recebiam das suas rendas), divide-se em 4 compartimentos, comunicantes entre si, cobertos de abóbadas de berço. O segundo piso tem planta semelhante e com 5 aposentos, cada um com a sua janela de peitoril. Neste piso será instalado o tesouro da Sé. O terceiro piso é o andar nobre do edifício e tem 3 compartimentos: o antecabido (ao cimo da escadaria que vem do claustro gótico), o cartório e a sala capitular, sem dúvida a melhor divisão da Casa, com rodapés de azulejos representando cenas mundanas e de caça, colocados em 1719/20 por João Neto da Costa. Ao centro da parede fronteira às 3 janelas desta sala, há um retábulo dourado, atribuído a Luís Pereira da Costa, no qual se vê a imagem de Cristo crucificado, pintada por Domingos Rocha. O retábulo é flanqueado por duas portas falsas, ornamentais, que, tal como as duas verdadeiras e as janelas, têm ombreiras de lousa e mármore róseo e sanefas de talha.
O tecto da sala do capítulo é de masseira, com caixotões de talha dourada, exibindo pinturas alegóricas, de estilo maneirista, e figuras de santos. Ao centro, um quadro representa o arcanjo S. Miguel esmagando o demónio (emblema simbólico do Cabido). Estas telas foram pintadas pelo italiano Giovanni Battista Paschini.
O cartório conserva nas paredes os azulejos setecentistas, da autoria de António Vital Rifarto, mais recentes que os da sala capitular. Nesta sala, guarda-se uma imagem em madeira, representando o Anjo da Guarda, esculpida em 1725, e que esteve, anteriormente, na nave da Sé, junto ao baptistério.

Túmulo do bispo D. Martinho Pires
 

A SÉ CATEDRAL DO PORTO (II)

28.09.07, amaroporto2
Sexta-feira, 18 de Maio de 2007
 

  

Do séc. XVI, são:
· a torre-lanterna, que permite uma iluminação difusa e é coroada, no exterior, por ameias;
· a capela de S. Vicente mandada construir pelo bispo D. Frei Marcos de Lisboa, entre 1582/91, para servir de panteão episcopal subterrâneo e onde estão sepultados vários bispos do Porto. De sóbria arquitectura clássica, apresenta um notável cadeiral (do séc. XVII), com cenas bíblicas;
· a capela do Santíssimo Sacramento, com o altar, o sacrário e o retábulo em prata cinzelada, uma preciosa obra da ourivesaria portuense, que levou mais de 50 anos a completar e esteve em risco de ser levada pelas tropas francesas de Napoleão, aquando da invasão de Soult, em 1809. Diz a tradição que esse obra-prima se salvou da rapina francesa graças à ideia feliz do sacristão que resolver caiar de branco todo o altar e retábulo, conseguindo com este estratagema disfarçar a prata que os recobria.
O moderno lampadário tem o desenho de Teixeira Lopes.
 

 

A actual capela-mor, que substitui a antiga abside medieval, foi construída, nos inícios do séc. XVII, por iniciativa do bispo D. Gonçalo Morais, em estilo classicizante, embelezada por uma profusão de mármores coloridos. Nasoni iniciou aqui, como pintor, em 1725, o seu brilhante percurso artístico no Porto. No séc. XVIII, o cabido encomendou o retábulo-mor, barroco [onde se encontrava a urna com as relíquias de S. Pantaleão, trazidas da Arménia por cristãos fugitivos e que desapareceu, em 1845, e de que nunca mais se soube o paradeiro] a Santos Pacheco que concebeu, então, uma obra inovadora, recorrendo ao entalhador lisboeta Miguel Francisco da Silva. Foi construído entre 1727/29. Destaque para as tribunas laterais, por cima dos cadeirais do cabido, onde ficam dois órgãos de tubos: o esquerdo (do séc. XVII) e o direito (do séc. XIX), recentemente restaurados, e para o gradeamento de bronze que fecha e separa o coro do corpo da igreja.
 

  

No transepto, lado esquerdo, na capela de N.ª Sr.ª da Piedade, está entronizada, desde 1984, a imagem de Nossa Senhora da Vandoma (do séc. XIV), padroeira da cidade do Porto, “civitas Virginis”. Esta imagem ocupou durante séculos o nicho do antigo Arco de Vandoma.
No transepto, lado direito, está entronizada a imagem de Nossa Senhora da Silva (séc. XV-XVI).
O espaço das naves mantém ainda a sua fisionomia original românica, com obras artísticas mais recentes como a pia baptismal [renascentista e junto da qual há um baixo-relevo, de bronze, representando o Baptismo de Cristo por S. João, obra do escultor Teixeira Lopes (pai)], ou os dois púlpitos de mármore (do séc. XVII).
Por detrás da sacristia subsistem restos da antiga Capela de S. Tiago, o primeiro templo da Misericórdia do Porto, transferida, depois, para a rua de Santa Catarina das Flores, onde hoje se encontra.
 
 

Do séc. XVIII, são as talhas douradas das capelas, o portal rococó da fachada (ladeado por duas colunas geminadas e a loggia ou galilé, uma das jóias da Sé Catedral do Porto, concebida, em 1736, por Nicolau Nasoni. [No mesmo local existiu, anteriormente, uma obra análoga, mandada construir pelo bispo D. Diogo de Sousa (1596-1505)].
O alpendre de Nasoni é uma construção em arcada, com 5 arcos separados por espaços rectangulares; o acesso ao arco central faz-se por uma pequena escada de 5 degraus que, por sua vez, dão acesso ao patamar, do qual partem dois lanços que conduzem ao vestíbulo abobadado, com paredes revestidas de azulejos decorativos, por cima de bancos de pedra. Parte destes azulejos (os do poente) têm assinatura de J. Alves de Sá e a data de 1934.

Na majestosa fachada principal, que mantém ainda as torres românicas (que em 1722 sofreram modificações no coroamento) e a rosácea original do séc. XII, encontra-se a imagem da padroeira da Sé do Porto – Nossa Senhora da Assunção – num nicho que termina um frontão, suportado por duas colunas geminadas que ladeiam o portal.
Entre 1932 e 1936, a Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais empreendeu profundas obras de consolidação e restauro, completadas já depois do 25 de Abril.
 Dois acontecimentos de grande importância foram realizados nesta Catedral: o casamento do rei D. João I com D. Filipa de Lencastre e o baptizado de um dos seus filhos, o Infante D. Henrique, que nasceu no Porto.

A SÉ CATEDRAL DO PORTO (I)

26.09.07, amaroporto2
Quinta-feira, 17 de Maio de 2007

A diocese do Porto já tinha bispo no último quartel do séc. VI, mas não se sabe em que local estaria edificada a igreja episcopal. Em 1114, a diocese foi definitivamente restaurada, sendo seu titular D. Hugo. Em 1120, a condessa D. Teresa doou, a D. Hugo, o couto do Porto, que ficou assim a ser um senhorio episcopal, fonte de vários e frequentes conflitos com a população do burgo e com a Coroa, devido aos direitos que esse senhorio conferia aos bispos .
Nesse tempo, a primitiva Sé do Porto não passava duma modesta ermida (construída, segundo a lenda, pelo bispo D. Nónego, nos inícios do séc. X) alcandorada no cimo do morro da Pena Ventosa. Esta ermida foi destruída para dar lugar à nova Sé, que começou a ser construída sensivelmente no mesmo local, no séc. XII, ainda no tempo de D. Teresa, que morreu em 1130. Destes tempos remotos, recordam-se, ainda, o palácio de D. Teresa (um prédio situado na actual Rua de S. Sebastião e que seria, mais tarde, o aljube eclesiástico e, depois, cadeia civil; neste Aljube Velho eram recolhidas, em especial, as prostitutas que infringiam as leis da higiene pública, e mais tarde serviu também de asilo para rapazes vadios. Hoje é uma casa particular), bem como o topónimo Escadas da Rainha, o actual Terreiro de D. Afonso Henriques.
Começou a ser construída em estilo românico, de que restam ainda as naves e as fachadas, nomeadamente as ameias características das igrejas-fortalezas da época, muitas vezes com dupla função de casa de oração e de local de refúgio face às investidas dos inimigos. Do "claustro velho" românico, restam arcos com ornamentos geométricos e que integrava, outrora, o chamado "cemitério do Bispo", alguns túmulos e sarcófagos, várias peças arqueológicas e restos de obras já desaparecidas, como é o caso do portal românico da Sé, substituído pelo actual, em 1722.
A construção foi interrompida e retomada várias vezes, ficando terminada nos primeiros anos do reinado de D. Dinis (1279-1325). Mas as obras (acrescentos, melhoramentos, modificações, etc.) nunca mais pararam, ao sabor dos estilos de cada época, já que cada novo bispo queria deixar o seu nome ligado à igreja-mãe da diocese.

 

 

Dos tempos do estilo gótico, temos a rosácea da frontaria e o Claustro Gótico ou Claustro Novo [hoje, com notáveis painéis de azulejos, da autoria de Valentim de Almeida, e que foram executados durante o período de “sede vacante”, entre 1717 a 1741. São inspirados no Cântico dos Cânticos (na galeria inferior) e em temas cristãos e mitológicos (na galeria superior)], que data de finais do séc. XIV, mandado erguer pelo bispo D. João III, homem fiel à nova dinastia de Avis. Não possuía edificações em redor, como hoje, a não ser a Sala do Capítulo (actual sacristia), a chamada crasta velha, e a capela de S. João Evangelista,   com a notável arca tumular de João Gordo, Cavaleiro de Malta e almoxarife do rei D. Dinis, com estátua jacente e a Ceia de Cristo. Esta última ficava saliente, no ângulo sudeste, ao lado do terreiro da feira e nas proximidades do Paço Episcopal, a que esteve ligado por uma passagem coberta, possivelmente em madeira, para comodidade dos bispos, no seu trajecto para a catedral.
 

 (continua)
 

AINDA O RIVOLI

25.09.07, amaroporto2
Quarta-feira, 16 de Maio de 2007
  

 O espectáculo “Liberdade, liberdade!”, a mais recente co-produção do Inatel/Teatro da Trindade e do Teatro TapaFuros, pretende reflectir uma certa realidade portuguesa vivida entre os anos 40 e 60 do séc. XX. No país político do Estado Novo salazarista e salazarento, desenrolam-se tensões e conflitos entre presos, guardas e familiares. A história inicia-se quando um comício relâmpago num café de Lisboa causa a prisão dum estudante católico e dum operário ingénuo. Depois, o assalto da Pide a uma tipografia clandestina conduz à prisão dum militante comunista. Reunidos na mesma cela, entre as visitas dos familiares e as desavenças com os guardas, as traições, as denúncias, as corrupções e as cumplicidades, os presos preparam uma fuga que conduzirá cada uma das personagens à liberdade ou à tragédia. Com texto de Filomena Oliveira e Miguel Real, encenação de Filomena Oliveira e interpretação dos actores Carla Guerreiro, Filipe Araújo, Flávio Tomé, João Mais, Paula Coelho, Rui Mário e Samuel Saraiva, o espectáculo está em cena no Teatro Bar do Teatro da Trindade até ao dia 2 de Junho, de Quinta-feira a Sábado às 23 horas, sendo o preço dos bilhetes de 8 €.

 

Assim noticia a DICA da Semana este espectáculo que, evidentemente, me parece ser digno de ser visto.
Mas o que faz este texto num blog dedicado à cidade do Porto?
Como diz o Sérgio Godinho, “isto anda tudo ligado”... É que sou sócia do INATEL e tenho acompanhado o excelente contributo do Teatro da Trindade na vida cultural da capital. O INATEL apresentou uma projecto de exploração do nosso Rivoli, que foi preterido pelo iluminado Presidente da Câmara do Porto, Rui Rio, a favor do projecto de Filipe La Féria.
Não sou fundamentalista e nada me move contra o Sr. La Féria. Reconheço que é um homem com talento e com sucesso. Mas o Porto está a transformar-se, na opinião de muitos portuenses, num deserto cultural. E isso nenhum de nós quer. Só uma oferta cultural diversificada e sistemática pode dar ao Porto o lugar a que tem direito, pelo seu passado e em nome do futuro que desejamos.
   
           Porto.Teatro Rivoli                                 Lisboa. Teatro da Trindade

A MURALHA FERNANDINA

25.09.07, amaroporto2

15 de Maio de 2007

 

A ideia de construir uma nova muralha, à volta da cidade do Porto, de modo a dar aos seus moradores as garantias de protecção e de defesa que então já não tinham, surgiu em 1336. Reinava D. Afonso IV, há pouco mais de 10 anos, e a necessidade duma tal cerca fez-se sentir mais premente na sequência duma tentativa de invasão castelhana patrocinada por Afonso XI. O intento foi anulado pelas forças portuguesas, comandadas pelos bispos de Braga, D. Gonçalo Pereira (avô de D. Nuno Álvares Pereira) e do Porto, D. Vasco Martins, aos quais se juntou o grão-mestre da Ordem de Cristo, D. Frei Esteves Gonçalves. A batalha travou-se nas margens do rio Leça, sendo os castelhanos obrigados a retirar. Receando novas investidas, o rei "Bravo", no Verão de 1336, decidiu patrocinar a construção dum sólido muro defensivo, em redor do Porto, para substituir a Cerca Velha, desde há muito rompida pelo alargamento e expansão do burgo portucalense e pelo desgaste dos anos.

D. Afonso IV morreu em 1357, sem ver totalmente construída a muralha que mandara erguer. O seu sucessor, D. Pedro I, talvez preocupado com outras questões de justiça, esqueceu a obra iniciada pelo pai. Foi D. Fernando que se empenhou no prosseguimento das obras. Só 40 anos depois, em 1376, a cerca ficou concluída. Daí o nome de "muralha fernandina".

Esta muralha, rodeando de largo a Cerca Velha, tinha um perímetro de 2.600 metros e cerca de 10 de altura. Os muros eram reforçados por 30 torres e abriam-se para o exterior em várias portas e postigos (conforme a sua importância e serventia), para entrada e saída de pessoas, carros, animais e mercadorias. A maior parte dessas aberturas dava para o rio (onde existia o cais de desembarque e a alfândega régia) e foram aumentando, ao longo dos tempos, até atingirem um total de 18: as Portas do Sol, Cimo de Vila, dos Carros, de Santo Elói, do Olival, das Virtudes, da Esperança e Nova (ou Nobre, por ser a mais importante de todas e por ser por ela que entravam reis, bispos e outras personalidades importantes, quando vinham à cidade) e os Postigos dos Banhos, da Lingueta, do Terreirinho, do Carvão (o único que sobreviveu até hoje), do Peixe, da Ribeira (mais tarde, transformado em porta), do Pelourinho, da Forca, da Madeira e da Areia.

No seu interior outras cercas surgiram, delimitando a judiaria e os terrenos administrados pelas instituições religiosas.

POSTIGO DO CARVÃO, um dos 9 que existiram na zona da Ribeira, voltados para o rio. LIgava o Cais da Estiva (ou da Alfândega Velha) à Rua da Fonte Taurina. Devido às obras efectuadas no local, ao longo dos anos, este postigo está pouco visível. No interior, vêem-se ainda os degraus de acesso à parte superior, onde outrora existiu uma inscrição gótica, que assinalava o facto de se ter encarregado um vedor de examinar as âncoras de Gaia, "para pôr uma cadeia e amarração", no ano de 1348, Este postigo servia para dar entrada ao carvão que, extraído ou fabricado nas carboníferas de Gaia e Gondomar, era exportado em barcaças e descarregado num dos cais da Ribeira.

Os séculos XIII, XIV e XV foram de grande desenvolvimento para a actividade marítima e comercial, intensificando-se as ligações com portos europeus como Barcelona, Valência, La Rochelle, Ruão, Londres, Ypres, Antuérpia, etc. Nesta época, os estaleiros do Porto e de Vila Nova de Gaia eram os mais importantes do país. Nasceu no Porto um dos negociadores do tratado que se celebrou, em 1352, entre Portugal e a Inglaterra. Chamava-se Afonso Martins Alho, e a ele se deve a expressão popular que designa uma pequena esperta: "fino que nem um Alho".

O Porto cresce em população e importância económica e os burgueses envolvem-se em questões e em lutas com os seus bispos, de cuja subordinação temporal procuravam libertar-se. Não raro, o rei serviu de medianeiro entre as partes desavindas, sendo D. João I quem, ao cabo de 2 séculos, consegue terminar com as contendas, comprando aos bispos do Porto o direito à jurisdição temporal que estes tinham sobre o burgo e respectivo couto.

 

             

 

    A expansão da cidade, cujo florescimento se acentuou nos sécs. XVIII-XIX, fez com que grande parte da população vivesse nos arrabaldes, já fora dos muros. Em nome do progressivo desenvolvimento urbano, a muralha vinha a ser sacrificada desde o séc. XVII. Aos poucos, e tal como acontecera com a anterior cerca, os seculares muros da fernandina foram sendo submersos pelo casario ou demolidos para a abertura de novas ruas. Em muitos dos edifícios públicos, que foram construídos a partir do séc. XVII, foram aproveitadas as pedras da muralha derrubada. No séc. XIX, a muralha sofreu a condenação final, sendo demolida na sua quase totalidade.  

O CASTELO DO PORTO

16.09.07, amaroporto2

Segunda-feira, 14 de Maio de 2007

A área ocupada hoje pelo Porto terá sido habitada desde o Paleolítico Superior. O núcleo urbano terá nascido durante o período do Bronze Final e, desde cedo, manteve importantes ligações comerciais com a bacia do Mediterrâneo. Com os romanos, a cidade controlava um importante eixo viário entre Lisboa e Braga. Não existe, no entanto, consenso quanto ao local exacto desse núcleo. Contudo, as descobertas arqueológicas permitem situar Cale (Calem), que aparece no Itinerário de Antonino (séc. II d.C.), no morro de Pena Ventosa, onde se levanta a Sé. Aí estará a origem do Porto. A confirmar está a origem da própria palavra, à qual têm sido atribuídos muitos sentidos, mas que etimologicamente (Cal, Kal) significa pedra, rocha, lugar elevado e rochoso. Portuscale (do nome romano Portus+Cale) ou Portucale era, de início, o porto de Cale, que ficava naturalmente, junto do Douro, na zona ribeirinha. Mais tarde, a cidade passou a designar-se por Portus (documentalmente, desde o 1.º quartel do séc. XII) e, depois, Porto, caindo o s final.

É possível que tivessem existido, muralhas romanas (de finais do séc. III ou inícios do IV), mas de verdade histórica indiscutível é a existência de dois muros defensivos no Porto, ambos medievais: a muralha dita sueva (Cerca Velha) e a muralha fernandina (Cerca Nova), das quais existem ainda hoje vestígios.

Além da natural protecção da cidade, as cinturas de muralhas destinavam-se, essencialmente, a defender os habitantes e os seus bens das investidas de invasores e atacantes, tão frequentes nos tempos medievais. Atribui-se aos reis suevos a construção dessa primitiva cerca e terá sido sobre os alicerces dessa fortificação sueva, arrasada pelo terrível chefe mouro Almançor, em 825, que o gascão Moninho Viegas (trisavô de Egas Moniz), ajudado pelos cristãos, no tempo da Reconquista, mandou construir os muros do burgo. Na acção da reconquista do território aos mouros, conhecida com Presúria do Porto (no ano de 868), foi importante o papel do conde VÍMARA PERES, considerado o "restaurador da cidade de Portucale e fundador da terra portucalense", recordado, desde 1968, na estátua equestre erguida junto à Sé Catedral. A Cerca Velha, também é designada por "Castelo do Porto" em muitos documentos antigos. De facto,  a 18 de Abril de 1120, a condessa D. Teresa, viúva do conde D. Henrique, na carta de doação do burgo do Porto, ao bispo D. Hugo e a seus sucessores, refere territórios extra muros, que integravam o Castelo propriamente dito e o couto doado ao primeiro bispo da Diocese, definitivamente restaurada.

A 14 de Julho de 1123, D. Hugo outorgou carta de foral aos habitantes do burgo portucalense. Estes dois documentos, pelas suas consequências, tiveram grande influência na vida da cidade do Porto, cuja história depende deles, em grande parte. D. Hugo aumentou o património da sua diocese com outras doações e privilégios, restaurou a vida religiosa e promoveu a construção da Sé, junto da qual ergueu um edifício onde vivia em comunidade com os cónegos. Faleceu a 7 de Setembro de 1136.
Como se viu, a Cerca Velha (ou “Castelo do Porto”), de origem sueva (?) e reconstruída por Moninho Viegas, erguia-se no morro da Pena Ventosa, à volta da Sé e de algumas construções que formavam o núcleo primitivo do burgo portucalense. Este morro, sobranceiro ao Douro, era um local de grande importância estratégica para o controlo da passagem do rio, principal via de entrada e saída da maior parte das mercadorias transaccionadas na cidade. A muralha comunicava com o exterior através de 4 portas. A principal era Porta de Vandoma (demolida, juntamente com a capela anexa, em 1855), que ficava a nascente do burgo, entre o Largo da Sé e a Rua Chã, antes denominada Chão das Eiras. Daqui, a muralha rodeava o monte da Sé, seguindo de perto as Escadas das Verdades, onde se erguia o Arco ou Porta das Mentiras (mais tarde chamado das Verdades, demolido talvez no decurso do séc. XIV). Cruzava então pelo alto do Barredo, fazendo um ângulo sobranceiro ao rio da Vila (hoje entubado sob as ruas de Mouzinho da Silveira e de S. João), onde se situava o Arco de Sant’Ana ou das Aldas (demolido em 1821). Continuava, depois, para norte, onde se abria o Arco de S. Sebastião (apeado, em 1819, por ameaçar ruína iminente), seguindo depois em zig-zag até fechar o circuito, na Vandoma.
     Estátua de Vímara Peres

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