A VIOLONCELISTA DO PORTO
Guilhermina Suggia, Augustus John (1923)
(...) “a colossal artista emocionou e encantou a assistência, que lhe fez justamente uma verdadeira apoteose. Tocou o Concerto em Mi menor de Elgar com a sua arcada que arrebata, com o brio e a expressão que só ela possui e ouvido em religioso silêncio, teve aplausos intermináveis, tendo de repetir o último andamento.” República, 16 de Fevereiro de 1946
|
Uns meses depois, a Coroa portuguesa concede-lhe uma bolsa para estudar em Leipzig (Alemanha), para onde se desloca, acompanhada pelo pai. A vida de pai e filha em Leipzig era extremamente difícil pois a bolsa não cobria totalmente os custos com as aulas e as despesas necessárias à estadia de ambos.
A família tinha poucos recursos financeiros e era a irmã que, com 20 anos, sustentava a família, dando aulas particulares de piano, sacrificando a sua carreira futura de pianista então já conhecida.
A vida de Guilhermina transforma-se completamente e, a partir dessa altura, é acolhida nas maiores salas de concerto pela Europa fora, onde o sucesso foi tão grande que o público lhe chamava “Paganina” (comparando-a a Paganini).
Em 1906, Suggia está em Paris e, reencontrando Pablo Casals, passa a viver com ele na Villa Molitor, sendo famosos os convívios do casal com músicos, pintores, escritores e filósofos. O romance enche as páginas dos jornais. A relação termina, abruptamente, em 1913 e Guilhermina muda-se para Londres, que se torna o centro da sua actividade musical. Os concertos que fez, nas salas mais conceituadas, foram êxitos estrondosos, em que as assistências a aclamavam verdadeiramente enfeitiçadas.
Casa de G. Suggia.Rua da Alegria,665 (Porto)
Em 1924, apesar de se manter ligada à capital inglesa, compra casa no Porto. Aqui acaba por casar, em 1927, com o médico José Casimiro Carteado Mena.
Nos anos 30, regressa definitivamente ao Porto, reforçando os laços musicais com músicos portugueses e tocando em várias capitais de distrito.
Em Junho de 1950, foi sujeita a uma cirurgia, em Londres, tendo-lhe sido detectado um cancro inoperável. Na altura é acarinhada pelos amigos e fica especialmente sensibilizada pelo bilhete e flores que recebe da Rainha de Inglaterra.
Regressa ao Porto, onde veio a falecer em casa na noite de 30 de Julho.
Está sepultada no Cemitério de Agramonte (Porto). Jazigo 2132
Em 1923, foi agraciada com a insígnia de oficial da Ordem de Santiago da Espada; em 1937, foi promovida a comendador desta Ordem. Em 1938, recebeu a Medalha de Ouro da Cidade do Porto.
Por outro lado, abriu as portas profissionais do violoncelo às mulheres, até então quase fechadas. Ainda em 1930, o violoncelo era tido como um instrumento indecoroso para as mulheres, sendo proibida a contratação de violoncelistas mulheres pela própria orquestra da BBC.