Não vou falar da história da Avenida dos Aliados, apenas das minhas memórias da Avenida.
Como já disse, não nasci no Porto, embora me considere portuense. Lembro-me do deslumbramento dos primeiros tempos. Tudo me parecia grandioso e magnífico. E claro, a Avenida dos Aliados, com os seus edifícios antigos, a Câmara Municipal, as estátuas, os jardins, eram para mim uma espécie de “sala de visitas” do Porto.
Era também o local onde se realizava a “Feira do Livro”. E eu, muito jovem ainda mas já dependente da leitura, lá ia ao fim da tarde fazer a minha ronda pelos expositores, acabando por regressar a casa carregada de livros. À noite, com os amigos, ia algumas vezes até à Praça tomar um café, ou por lá passava no regresso do cinema. Com o 25 de Abril, a Avenida tornou-se o centro de comemorações, manifestações, concertos. Nas tardes quentes, as pessoas descansavam sentadas na relva dos jardins e à sombra das árvores, enquanto as crianças corriam por entre as pombas.
É triste verificar que, durante a noite, a Avenida está agora quase deserta. Mas os edifícios, lavados e iluminados, ainda proporcionam a sensação de uma grandeza bela.
Mas... Porque terá de haver sempre um mas? Depois das obras, da responsabilidade da dupla Rui Rio / Siza Vieira, a Avenida perdeu parte da memória e, por conseguinte, a alma.
Decididamente, não gosto do que fizeram. E digo isto com grande mágoa. Não por causa do Presidente da Câmara que, de facto, não me é particularmente simpático. Mas, tinha um certo respeito, orgulho até, pelo arquitecto Álvaro Siza Vieira, um homem do norte com obra reconhecida. O problema é que os arquitectos “constroem”... e que tinha o arquitecto Siza para construir naquele local? Nada. Então destruiu os jardins, eliminou a calçada portuguesa (Já agora: Onde param as “valiosas” pedras que tiraram de lá?) e introduziu um “espelho de água” que talvez seja bonito visto da Lua. Porque do chão onde pousamos os pés, senhor arquitecto, não passa dum tanque inestético e que serve para depósito de lixo. Lamento ter de dizer isto, mas a cidade é de quem vive nela e não há poder que tenha o direito de destruir a sua herança. Parece que até queriam tirar, da Praça Humberto Delgado, a estátua de Almeida Garrett. Isto é de bradar aos céus! A Avenida parece agora, no centro, é um espaço árido. E, não querendo fazer juízos de valor, parece ter havido uma intenção visível: afastar a “maralha” daquele local nobre da cidade, onde se sentia tão bem.
No que me toca, quando lá vou, fico triste e revoltada.
Gastar os nossos impostos assim, não!