Escuro, pitoresco, desleixado, o Porto já não é a metrópole que foi na minha infância. As pontes e a estação, o palácio do bispo, a Sé, a Torre dos Clérigos, tudo isso se mantém, e vista da margem esquerda a paisagem da cidade continua esplêndida. Mas nos rostos das pessoas há mais sombras que sorrisos, o ar de algumas ruas é de mau agouro.
O rio lá está, quase sem movimento, com pouca vida, só de longe a longe um ou outro naviozito se arrisca a passar por entre as línguas de areia que lhe assoreiam a foz. Os rabelos envernizados que agora o navegam são falsificações da publicidade e na beira-rio lodosa de Gaia, que conheci cheia de bulício, a ferver de agitação, deitaram placas de cimento e fizeram esplanadas onde os turistas se sentam a beber cerveja, de costas para a cidade para melhor tomarem o sol. Passo, olho, vou adiante e minto a mim próprio, dizendo-me que é absurdo carregar o peso morto do passado.
Hospedei-me por uma noite num hotel da Praça da Batalha, contente de ver em redor quase todos os cinemas e cafés do meu passado, a sua presença a confirmar que nem tudo se estiola, nem tudo morre.
Desço para o rio, atravesso a ponte, refaço o que foi o caminho de casa. Por um instante, com sede, quase me deixo tentar pelos guarda-sóis coloridos das esplanadas, mas continuo em frente, como se fosse inconveniência ou traição ir-me sentar entre estranhos no mesmo lugar onde antes brinquei, onde sonhei.
J. Rentes de Carvalho, La Coca
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