![]()
Canção com lágrimas
Eu canto para ti um mês de giestas
Um mês de morte e crescimento ó meu amigo
Como cristal partindo-se plangente
No fundo da memória perturbada.
Eu canto para ti um mês onde começa a mágoa
E um coração poisado sobre a tua ausência
Eu canto um mês com lágrimas e sol o grave mês
Em que os mortos amados batem à porta do poema.
Porque tu me disseste: quem me dera em Lisboa
Quem me dera em Maio. Depois morreste
Com Lisboa tão longe ó meu irmão tão breve
Que nunca mais acenderás no meu o teu cigarro.
Eu canto para ti Lisboa à tua espera
Teu nome escrito com ternura sobre as águas
E o teu retrato em cada rua onde não passas
Trazendo no sorriso a flor do mês de Maio
Porque tu me disseste: quem me dera em Maio
Porque te vi morrer eu canto para ti
Lisboa e o sol. Lisboa com lágrimas
Lisboa à tua espera ó meu irmão tão breve.
Letra: Manuel Alegre
Música e interpretação: Adriano Correia de Oliveira
Raiz
Canto a raiz do espaço na raiz do tempo
E os passos por andar nos passos caminhados.
... Caminho onde caminhas passo a passo.
E braço a braço meço o espaço dos teus braços:
Oitenta e nove mil quilómetros quadrados.
E um país por achar neste país.
Letra: Manuel Alegre
Música e interpretação: Adriano Correia de Oliveira
Lembro-me do sábado em que morreste. Um dia triste, um dia em que quereríamos fechar as bocas dos que davam a notícia. Mas a morte calou a tua voz cristalina que me fez, tantas vezes, chorar. "Pergunto ao vento que passa"... Estive no teu funeral, em Avintes. A imagem que guardo é dum dia de chuva. Passados 25 anos, já nem sei era chuva se eram lágrimas.
E o que dói, meu amigo, é que nós, os vivos, continuamos a ter "oitenta e nove mil quilómetros quadrados. E um país por achar neste país."
A tua voz e o teu canto continuam, hoje, a ser indispensáveis, porque "há sempre alguém que resiste; há sempre alguém que diz: NÃO!"